Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Bebeto de Freitas foi perfeccionista imperfeito e apaixonado

Sua trajetória é contada em biografia que será lançada em São Paulo nesta terça

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Dizer que Bebeto de Freitas era um visionário seria pouco demais diante de sua genialidade. O técnico que revolucionou o voleibol no Brasil, e em parte do mundo, era antes de tudo um perfeccionista imperfeito e apaixonado pelo esporte.

Perfeccionista imperfeito porque, para se atingir o limite humano da excelência, seria necessário verticalizar no conhecimento de uma única coisa. E Bebeto queria mais do que o voleibol. Para que houvesse o desenvolvimento do esporte como um todo, da base ao topo, era necessário um conjunto de ações que envolvesse todas as modalidades.

Ele chegou a esse pensamento depois de jogar muita bola nas ruas de Copacabana, quando isso ainda era possível. Membro de uma família à qual pertenceram Heleno de Freitas e João Saldanha, não cabia ser apenas um jogador de bola. Era fundamental pensar, construir estratégias para superar a desigualdade que permitia que tão poucos chegassem à condição de ídolo que seu tio Heleno usufruiu ou que seu outro tio João usou para enfrentar a ditadura.

A trajetória dele é tema da obra "Bebeto de Freitas: o que eu vivi". A biografia em primeira pessoa foi escrita pelo jornalista Rafael Valesi a partir de encontros em que Bebeto fala sobre si e o esporte brasileiro. O livro será lançado em São Paulo nesta terça (22), a partir das 19h, no bar São Cristóvão (R. Aspicuelta, 533, Vila Madalena).

Como atleta, Bebeto viveu a transição dos tempos românticos em que se treinava apenas três vezes por semana e, com isso, se chegava a uma Olímpiada. Em 1972, ficou de fora de sua primeira experiência olímpica, acometido por uma crise de apendicite já em Munique, mas estreou em Montreal, quatro anos depois. Lá, observou a diferença técnica entre as seleções que treinavam regularmente e as que ainda viviam de forma amadora.

Por essa razão, decidiu ir para os EUA estudar e jogar voleibol. Por lá, as coisas eram diferentes dentro e fora da quadra.

Além de se capacitar como técnico para buscar títulos, Bebeto correu atrás de tudo aquilo que podia fazer a diferença em sua vida no Brasil. Fez vários cursos de gestão, treinamento esportivo e fisiologia do exercício, conhecimento que o capacitou a exercer diferentes papéis no esporte brasileiro.

Por ter atuado no campeonato profissional norte-americano, foi impedido de jogar pela seleção brasileira. 
Mas o voleibol vivia uma revolução, e a expertise conquistada o tornava uma pessoa imprescindível para o projeto de profissionalização desejado por seu então amigo de infância Carlos Arthur Nuzman.

Em 1980, foi chamado para ser o técnico da seleção brasileira masculina de voleibol, na qual implantou uma nova filosofia de trabalho. O resultado foi a conquista da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, e a transformação do voleibol na segunda modalidade mais praticada no país.

Atletas se tornaram pop stars, empresas começaram a surgir como patrocinadoras, e Bebeto caminhou junto com isso no desenvolvimento de outras modalidades.

Antonio Carlos de Almeida Braga, da Companhia de Seguros Atlântica Boa Vista, ofereceu as condições materiais para que isso se realizasse. A chamada geração de prata desfrutou dos anos dourados do esporte. Na Atlântica, passou a administrar esse projeto, que incluía basquetebol, voleibol, natação, atletismo, tênis e futebol de salão.

Fora da seleção por desentendimentos com a cúpula do voleibol, foi chamado às pressas para montar a seleção que foi aos Jogos de Seul, em 1988. Não conseguiu repetir o resultado anterior, mas pior que isso foi ter ali a certeza de que o grupo dirigente do voleibol brasileiro caminhava por uma trilha que não era a sua.

Àquela altura, Bebeto já sabia demais sobre muitas coisas. Depois de sair da seleção, foi para a Itália tentar, pela distância, se afastar do esquema que se montava em torno do esporte. Sua competência o fez ganhar um dos títulos mais difíceis de sua vida: o de campeão mundial, pela Itália e contra o Brasil.

Passional, patriota e afetivo, se viu chamado de traidor, quando o que ele mais desejava era denunciar ao mundo os desmandos pelo qual o esporte brasileiro passava e que ainda demoraria algumas décadas a serem desmascarados.

Bebeto amargou as consequências do enfrentamento com Nuzman com o ostracismo. Impedido por seu desafeto de trabalhar com o voleibol, fez uso de seus conhecimentos e talento para reerguer o Botafogo, seu time de coração. Viu ainda a queda em desgraça de quem o perseguiu, porém não celebrou, como muitos acreditavam. Seu coração era maior que isso, mas era também um pote até aqui de mágoa.

"Bebeto de Freitas: o que eu vivi"
256 páginas
Preço: R$ 65,00
Editora: 7Letras 
À venda: lojas físicas da Livraria da Travessa no Rio ou na editora 7Letras (Rua Visconde de Pirajá, 580 - Loja 320, em Ipanema, Rio de Janeiro). Pela internet, no site da Livraria da Travessa (https://www.travessa.com.br/)

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