Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Katia Rubio

Fica o desejo de ver o COB cuidar do esporte e principalmente dos atletas

Eleição na entidade mostra que esportistas estão no jogo democrático como titulares

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O esporte é pródigo em disputas. Aliás, não fosse a competição o esporte seria qualquer outra coisa. Essa talvez seja a condição básica daquelas e daqueles que escolhem ser atletas. A busca pela excelência leva algumas pessoas a renunciar a uma vida comum a milhões de seres humanos para repetir à exaustão um gesto que beira a perfeição.

Alguns chamarão isso de alienação. Outros de dedicação. O que digo é que essa disposição para chegar a ser o melhor tem consequências sérias pessoais e institucionais.

Do ponto de vista pessoal, o distanciamento das questões maiores da sociedade e da vida leva a uma perda de autonomia. Dependência emocional ou material nunca tem final feliz. Pensar e agir demandam esforço e energia, o que resultará em decisões que também serão julgadas e demandarão esforço em sua compreensão.

Da esquerda para a direita, Marco La Porta (vice-presidente), Paulo Wanderley (presidente), Rogério Sampaio (diretor-geral) e Luciano Hostins (diretor jurídico)
Da esquerda para a direita, Marco La Porta (vice-presidente), Paulo Wanderley (presidente), Rogério Sampaio (diretor-geral) e Luciano Hostins (diretor jurídico) - COB

No lado institucional, a falta de preparo resulta em falta de liderança, entendida como desinteresse. Essa fragilidade favorece a manipulação por parte de quem compreende a dinâmica da máquina. Tem-se então a política de cotas, que só se efetiva com a verdadeira qualificação, capacitação e autonomia dos atletas. Ou então, o jogo da manipulação continua a se reproduzir ad infinitum.

As eleições do COB nesta semana mostraram algumas questões muito importantes para a compreensão do esporte olímpico brasileiro:

- Embora Pierre de Coubertin desejasse que o sistema olímpico fosse algo suspenso da sociedade, isso parece impossível. As eleições foram acompanhadas com interesse incomum, com intervenções externas visíveis até mesmo aos mais cegos;

- Esporte não vive sem política, seja ela partidária ou não. Afinal, o ser humano, que vive e se organiza socialmente, é um ser político. O esporte na atualidade não é a mesma prática aristocrática do passado. Fala-se muito em capacitar os atletas para assumirem outras funções, que não a de competir, e isso vale também para as federações e confederações;

- Os atletas estão no jogo democrático para ser titulares, não reservas, papel consagrado neste mais de um século de atividades. A presença e atuação da comissão votante, e de um vasto grupo que não vota, foi determinante para eleger alguns candidatos. Mais do que nunca fizeram valer o princípio olímpico do respeito;

- A máxima de que o jogo é jogado no campo e o vencedor só pode ser proclamado quando o apito soar valeu mais do que nunca. A finta é um gesto comum em diferentes modalidades, o que serve para tirar o foco da defesa no ataque iminente. Fintou-se muito nos dias que antecederam as eleições, e o resultado apontou quem subiu no bloqueio da bola de ponta enquanto o ataque se fez numa chutada de meio;

- Embora os jogos de baralho não sejam olímpicos muitos dirigentes praticaram o “poker face”, ou seja, fizeram de conta, blefaram sobejamente, fazendo com que o resultado fosse desconhecido até o momento da contagem dos votos. Isso certamente terá um preço.

Resta agora esperar para ver como a Assembleia-Geral se comportará depois de tudo.

O presidente Paulo Wanderley anunciou que a família olímpica é como outras tantas: seus membros discordam, brigam, porém seguem juntos. Não há dúvidas disso. E a história está aí para mostrar quantos desafetos são capazes de sentar-se à mesma mesa, mesmo depois de desferirem impropérios aos adversários, dentro e fora das quadras.

Depois de tudo, fica o desejo de ver o COB ser forte e representativo. Cuidar do esporte e, principalmente, dos atletas. A começar por Carol Solberg.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.