É coordenador do Movimento Brasil Livre.
Contradição entre reformas e Lava Jato só existe na cabeça de Celso de Barros
As colunas de Guilherme Boulos, Janio de Freitas, Celso de Barros e Gregorio Duvivier deveriam ser unidas em uma só. Há tempos, todos eles batem na mesma tecla, a de que o impeachment foi uma grande farsa para dar espaço a um governo pautado por banqueiros.
Em seus dois últimos artigos, Celso de Barros sustentou a mesma tese, mas trazendo uma novidade. Para ele, nesse período pós-impeachment, a "direita brasileira precisa se decidir sobre Temer" pois "abandoná-lo é colocar em risco as reformas de mercado, apoiá-lo é colocar-se no centro do alvo da Lava Jato".
Para início de conversa, a direita nunca esteve com Temer. Como já repeti inúmeras vezes, quem lutou pelo impeachment não escolheu Michel Temer. Quem escolheu foi a Constituição. Diferente da esquerda, a direita sabe que a lei está acima de seus anseios políticos.
A escolha dos liberais virá em 2018. Setores expressivos da esquerda ainda parecem acreditar na candidatura de Lula. Quando descobrirem que não passa de um delírio, será tarde demais –mas isso já é assunto para outro artigo.
Não conheço ninguém que seja contra a Lava Jato por defender as reformas econômicas que estão sendo postas em debate. Aliás, quem aceita a corrupção, desde que cometida em prol de um projeto "virtuoso", são os esquerdistas, que acolheram de braços abertos os "guerreiros do povo brasileiro" condenados no mensalão e cujo melhor quadro para 2018 é réu, acusado de chefiar um assalto bilionário aos cofres públicos.
Como bem escreveu Demétrio Magnoli, os mesmos intelectuais de esquerda que aplaudem os inquéritos contra os aliados de Temer dizem que a Lava Jato é uma grande conspiração para inviabilizar a candidatura de Lula à Presidência da República.
Podemos desenhar uma interessantíssima teoria com os devaneios dessa gente: se o governo Temer quer acabar com a Lava Jato, e o objetivo da operação é perseguir Lula, então o impeachment foi um grande complô armado pelo PT e pelo PMDB para que Temer acabasse com as investigações e garantisse a vitória do PT em 2018. Tem lógica? É claro que não, mas isso é mero detalhe para aqueles que são guiados por cabrestos ideológicos.
Não é preciso ser apoiador do governo Temer para defender que temas como o sistema previdenciário, a legislação trabalhista e o sistema tributário sejam debatidos. Basta ter bom senso.
A oposição esquerdista está se limitando a negar o debate, repetindo berros do tipo "não existe rombo na Previdência!" e "não aceito governo golpista!" ad aeternum. Está dando tão certo quanto negar a Lei da Gravidade
e pular do vigésimo andar de um prédio.
Me diga, Celso, por que aqueles que defenderam o impeachment precisam fazer uma autocrítica? A lei foi cumprida e o curso do trem que nos levava a mil por hora para um desastre similar ao da Venezuela foi desviado.
A pergunta "foi para isso que vocês derrubaram a Dilma?" –que não foi feita por Celso, mas está nas entrelinhas de seu artigo– é tão tola que, como diria Reinaldo Azevedo, está na categoria das coisas que nem erradas são. A pergunta correta é: o que piorou com a queda de Dilma Rousseff? Ministros citados na Lava Jato estão caindo, a economia está voltando a crescer, reformas importantes estão sendo debatidas no Congresso etc.
Qual é o motivo da indignação dos petistas? Existe algo objetivo ou é só esperneio por terem perdido o poder?
A direita sabe que há corrupção em todos os partidos. E é justamente por isso que, ao contrário da esquerda, apoia investigações contra todos os suspeitos. Mas existe, sim, algo de excepcional no PT: foi o único partido que utilizou a corrupção para atentar contra a República.
Os petistas, além de encherem os próprios bolsos, também utilizaram dinheiro saqueado dos cofres públicos para fechar o Congresso na base da propina. Isso não é opinião, é fato. Mas, para a militância vermelha, não há fato que destrua a verdade revelada pelos seus sacerdotes.
Sei que nenhum dos brilhantes intelectuais que citei no começo me responderão. Como bons esquerdistas de boutique, pensam que são seres iluminados, nobres demais para debater com um reles mortal, como eu. Não tem problema. Quando lançarem o livro "Todo mundo que discorda de mim é golpista", estarei lá para pedir autógrafos.
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