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Alckmin, o inacreditável candidato a vice de Lula

Famoso por não ter carisma (é pejorativamente chamado de "picolé de chuchu"), o ex-governador está ligado às tendências mais conservadoras da Igreja Católica

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Guilherme Simões Reis

Professor da Escola de Ciência Política da Unirio, doutor em Ciência Política pelo Iesp-Uerj e coordenador do Centro de Análise de Instituições, Políticas e Reflexões da América, da África e da Ásia (Caipora)

Desde que o ex-presidente Lula da Silva teve seus direitos políticos restituídos, ele retornou à sua condição de favorito na eleição presidencial de 2022. Em pesquisa recente do Instituto Datafolha, Lula, do Partido dos Trabalhadores, é apontado com 48% das intenções de voto, o que indica que são fortes as possibilidades de uma vitória ainda no primeiro turno. Jair Bolsonaro está em segundo lugar, muito abaixo, com alta rejeição, e aprovação de seu governo em queda.

Todas as tentativas de se criar uma "terceira via" têm tido resultados pouco ou nada promissores. Com Lula como provável próximo presidente, o noticiário se agitou desde o primeiro momento em tentar "descobrir", ou talvez pautar, quem haveria de ser seu vice.

A busca infinita de uma candidato a vice-presidente

A variedade de nomes cogitados impressiona: o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD), o senador Omar Aziz (PSD), o governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB), o governador do Maranhão Flávio Dino (PSB), a senadora Simone Tebet (MDB), a empresária Luiza Trajano, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (PSD), o empresário Josué Gomes (PL e FIESP), entre inúmeros outros.

Em sua entrevista coletiva em novembro no Parlamento Europeu em Bruxelas, Lula brincou que já tinha 22 vices. Um nome, no entanto, tem ganhado destaque, supostamente tem apoio do ex-candidato do PT Fernando Haddad, e não é negado por Lula: o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.

O favoritismo de Lula difunde a esperança na volta de um governo soberano, que busque justiça social, pleno emprego e políticas inclusivas. A figura de Alckmin, no entanto, promove frustração. Famoso por não ter carisma (é pejorativamente chamado de "picolé de chuchu"), está ligado às tendências mais conservadoras da Igreja Católica, vinculado por décadas à Opus Dei, e seus governos se caracterizaram por um duro neoliberalismo. Quando era vice-governador, comandou o programa de privatizações em São Paulo, vendendo a estatal Eletropaulo por um valor considerado muito baixo.

Alckmin acumulou quatro mandatos no governo de São Paulo, estado apelidado de Tucanistão devido à longevidade do Partido da Social-Democracia Brasileira (cujo símbolo é um tucano) à frente do executivo estadual: 26 anos. Se os governos federais do PT expandiram a educação, Alckmin deixou os professores quase quatro anos sem reajuste salarial, perseguiu grevistas e fechou mais de duas mil salas de aula.

Seus governos em São Paulo tiveram escândalos de licitações fraudulentas, com desvio de dinheiro destinado à compra de suco de laranja para as escolas (Alckmin recebeu a alcunha de "ladrão de merenda"), propinas da construtora Odebrecht e superfaturamento em contratos de manutenção das linhas de metrô e trem. Uma das empresas participantes do esquema do metrô, a Alstom, obteve posteriormente do governo Alckmin um perdão de R$ 116 milhões e uma extensão de dez anos no prazo para fornecer o serviço contratado.

Quando Lula e Alckmin se enfrentaram na eleição para presidente em 2006, duas situações merecem destaque. Primeiramente, no principal debate televisivo entre os dois candidatos, Alckmin ficou desconcertado quando Lula perguntou a ele sobre privatizações e o desmonte do Estado, uma marca dos governos de seu então partido, o PSDB.

A segunda situação é o próprio resultado eleitoral: Alckmin conseguiu a proeza de receber 2,4 milhões de votos a menos no segundo turno do que no primeiro. Nas últimas eleições para presidente, em 2018, Alckmin voltou a concorrer e conseguiu novo feito: terminou em quarto lugar com apenas 4,7% dos votos, a pior colocação da história do PSDB.

Algumas implicações da Chapa Lula-Alckmin

Além dos problemas acima descritos, juntamente com o Partido Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) (hoje MDB), o PSDB foi o principal partido por trás do golpe em 2016. A este respeito, uma decisão do PT, judicialmente perseguido nos últimos anos, por fazer aliança com o PSDB poderia fortalecer a tese de que não houve golpe de Estado, mas sim um caso normal de impeachment.

A eventual chapa de Lula com Alckmin, no entanto, não seria com o PSDB, por maior que seja a identificação deste com os "tucanos". Com a vitória do atual governador de São Paulo João Doria nas prévias do PSDB para ser candidato a presidente, ficou inevitável a desfiliação de Alckmin, pois eles dois têm relação tensa desde 2018.

Existe a possibilidade de Alckmin se filiar ao PSB, PSD ou Solidariedade. A ala de São Paulo do PSB realizou pesquisa para verificar o quanto uma chapa com Alckmin aumentaria a votação de Lula no interior desse estado, onde está o grande apoio eleitoral do ex-governador. Entretanto, no próprio PSB haveria nomes que contribuíram nacionalmente mais para as chances de Lula, como suas lideranças no Nordeste.

O PSD também tem políticos que podem agregar sem tanta rejeição, como os senadores participantes da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as ações e negligências do governo Bolsonaro diante da pandemia. Lula já afirmou que só definirá seu vice depois que for oficialmente candidato à Presidência e que pretende "construir uma chapa para ganhar as eleições". Outras fórmulas contribuíram mais para esse objetivo.

Há um clichê que diz que "política é a arte de negociar". Evidentemente, política é isso também, mas é muito mais que isso. De fato, seria improvável que Lula construísse uma chapa tendo como vice algum companheiro de partido, como Fernando Haddad, ou algum aliado de um partido menor de esquerda, como Guilherme Boulos (PSOL e MTST) e Manuela D'Ávila (PC do B).

No entanto, escolher como vice um adversário histórico (e que pouco agrega votos), confundiria e despolitizaria os eleitores, transmitindo a ideia de que a denúncia do golpe em 2016 se tratou de puro discurso, e que realmente não fazia diferença eleger PT ou PSDB. Pior: fortaleceria a narrativa de Bolsonaro de que PSDB é de esquerda e lhe daria sobrevida como candidato com chances elevadas de disputar a presidência. Por fim, Michel Temer (PMDB), como vice-presidente, conspirou pelo golpe que derrubou Dilma Rousseff, do PT. O Brasil pode confiar que Alckmin, que apoiou aquele golpe, seria leal a Lula a partir de 2023?

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