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Impactos da mudança climática na América Latina e no Caribe

Região vive momento decisivo diante dos desafios da emergência climática

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María Villarreal

Cientista política. Professora de Relações Internacionais da UFRRJ e do programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UNIRIO. Doutora em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madri

Em 6 de novembro foi inaugurada em Sharm el-Sheikh (Egito) a 27ª Conferência das Partes, a COP27. Trata-se do evento anual mais importante sobre mudança climática que reúne chefes de Estado, ministros, prefeitos, ativistas, representantes da sociedade civil e diretores executivos para tratar da emergência climática.

Na abertura da COP27, o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que a humanidade deve optar pela solidariedade climática, escolhendo entre cooperar ou morrer para evitar o suicídio coletivo. Entretanto, os efeitos da mudança climática são diferenciados e têm mais peso em regiões como a América Latina, cujo território é particularmente vulnerável a desastres naturais, apesar de ser responsável por apenas 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.

A mudança climática define as transformações de longo prazo das temperaturas e padrões climáticos. Embora estas alterações sejam históricas e muitas delas sejam naturais, na era do Antropoceno, ou nova era geológica da humanidade, a ação humana é considerada a principal causa de problemas ambientais, devido à queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão ou gás.

Mulher olha a destruição em Haulover, Nicaragua, em novembro de 2020, após a passagem do furacão Iota; pelo menos 200 morreram - Inti Ocon/AFP

Embora o conceito de Antropoceno tenha grande aceitação internacional, há aqueles que acreditam, partindo de posturas críticas, que o efeito destrutivo das atividades humanas sobre o meio ambiente não pode ignorar as relações políticas e econômicas de poder, assim como as desigualdades que as caracterizam no capitalismo global.

A noção do Capitaloceno, segundo estes questionamentos, é mais apropriada para falar dos impactos devastadores causados por nosso modelo de produção e consumo, bem como das responsabilidades diferenciadas na atual crise ecológica. Para além do contexto, os efeitos da mudança climática são múltiplos e incluem consequências negativas sobre a economia, a saúde e a segurança, mas também sobre a produção de alimentos, a temperatura dos oceanos e o nível do mar, ou as migrações.

A mudança climática na América Latina e no Caribe

Em nossa região, a publicação "Impactos da mudança climática na América Latina e no Caribe", realizada pelo Instituto Interamericano para la Investigación del Cambio Global e Latinoamérica21, visibiliza alguns dos principais efeitos deste fenômeno, que vão desde o derretimento das geleiras andinas até eventos meteorológicos extremos, como as devastadoras inundações e secas que ocorreram no Brasil, Venezuela e Peru, ou os furacões e tufões que afetam países como Cuba e República Dominicana.

A obra é um esforço de divulgação científica que busca visibilizar os heterogêneos efeitos da mudança climática na região, mas também fornece soluções baseadas na ciência e na cooperação internacional. Assim, é possível compreender que a elevação do nível do mar e o aquecimento e acidificação dos dois grandes oceanos que rodeiam o continente, o Pacífico e o Atlântico, produzem consequências às pessoas e aos animais, assim como perdas econômicas.

Um exemplo é a plataforma continental do sul do Brasil, Uruguai e norte da Argentina, um dos maiores hotspots marítimos do mundo. Nesta área, a pesca artesanal em países como o Uruguai é particularmente vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas que levam à redução ou impossibilidade da pesca, devido à mortandade de peixes, bem como às marés vermelhas e aos riscos de intoxicação alimentar que estas acarretam, o que gera fortes perdas econômicas e força a população local a mudar seu modo de vida para sobreviver ou migrar.

A mudança climática, juntamente com o desmatamento e as transformações no uso dos solos, implica uma maior circulação e distribuição geográfica de indivíduos, animais, vírus e vetores de doenças, como os mosquitos. Estas transformações, longe de serem inócuas, multiplicam o risco de novas doenças e o surgimento de pandemias.

Na América Latina de hoje, existem, por exemplo, surtos de dengue em regiões frias da região andina ou em cidades argentinas com clima temperado como Córdoba, enquanto os problemas de financiamento do setor sanitário e sua escassa preparação ante os riscos climáticos nos tornam particularmente vulneráveis a futuras pandemias.

A educação é outra das áreas afetadas. A pandemia causou efeitos negativos sem precedentes no aprendizado e nas taxas de evasão escolar entre as crianças e os jovens da região. Eventos como o calor extremo também repercutem na concentração, desenvolvimento e bem-estar dos estudantes, enquanto inundações ou furacões destroem a infraestrutura e os materiais escolares e impedem os alunos de receberem uma formação adequada.

Em 2020, a passagem devastadora dos furacões Eta e Iota causou uma crise humanitária na América Central e destruiu centenas de escolas na Nicarágua, Guatemala e Honduras.

O aumento da migração proveniente do Caribe ou da América Central está diretamente associado a estes fenômenos e, embora não seja uma relação determinista, espera-se que 17 milhões de latino-americanos migrem até 2050 devido aos efeitos da mudança climática.

Estamos vivendo um momento decisivo diante dos desafios da emergência climática. Embora os efeitos da mudança climática sejam mais pronunciados em regiões como a América Latina e o Caribe, a ciência não deixa espaço para ambiguidades: a mudança climática é um desafio do presente que ameaça o bem-estar e a sobrevivência das pessoas e do planeta.

Como mostrou o recente relatório do IPCC (2022), com 1,1° de aquecimento, a mudança climática já está causando consequências generalizadas em todas as regiões do mundo e, se não conseguirmos reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa (GEE) nesta década e promovermos políticas de adaptação imediatamente, as repercussões serão catastróficas.

Neste sentido, a COP27 representa uma oportunidade única para priorizar a agenda ambiental e climática, bem como para promover a solidariedade e a cooperação em várias frentes. Já não se trata de uma escolha: não há alternativas para o planeta.

*Tradução do espanhol por Giulia Gaspar

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