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A estratégia da diplomacia chinesa na América Latina

Pequim criou um corpo diplomático amplo e variado, com perspicácia global

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Benjamin Creutzfeldt

Doutor em estudos políticos pela Universidad Externado da Colômbia e sinólogo com enfoque na política externa chinesa. É docente no Departamento de Estudos da Ásia Oriental na Georg-August-Universität, em Göttingen (Alemanha), e pesquisador afiliado do Centro de Estudos da China e Ásia-Pacífico da Universidad del Pacífico, em Lima (Peru)

Nos últimos anos, Pequim tem feito grandes esforços para levar seu modelo de desenvolvimento modernista e conectividade total para o mundo, tanto por fatos contundentes quanto em retórica ideacional. Estados Unidos e outros países ocidentais se sentem ameaçados pelos fatos e também pelas ideias relacionadas, enquanto no Sul Global há uma maior acolhida. Os porta-vozes do governo chinês levantaram a voz e às vezes conseguiram ofender (um costume que anteriormente era privilégio dos impérios ocidentais), mas esses diplomatas com o novo apelido de "lobos guerreiros" não são os mesmos na América Latina, por exemplo. Proponho-me a explorar quem são os mensageiros e por que a mesma mensagem é percebida de forma tão distinta?

Durante décadas, Washington contou com a rede diplomática mais extensa do mundo. Esta situação facilitou sua inserção nos debates locais e manteve sua mensagem nas capas ao redor do mundo. Entretanto, durante a administração do Presidente Trump, a extensão de suas missões permanentes diminuiu, junto com o espírito ganhador de seus representantes e sua capacidade de influência, e não foi recuperado sob o presidente Biden.

Xi Jinping e Joe Biden em encontro paralelo ao do G20, em Bali (Indonésia) - Kevin Lamarque - 14.nov.2022/Reuters

A dinâmica de influenciar nos assuntos globais mudou: segundo um estudo recente, a República Popular da China lidera agora numericamente, com 276 postos diplomáticos no mundo. Ademais, o número de funcionários em cada embaixada aumentou, a idade média dos encarregados diminuiu e a formação profissional e a transferência interna de conhecimentos estão sendo aprimoradas.

Essa evolução se deve ao reconhecimento em Pequim da ascensão da China como ator protagonista, junto à crescente presença de suas corporações e cidadãos em todo o mundo, o que coloca novas exigências ao seu corpo diplomático. O papel e as capacidades dos diplomatas chineses como representantes, comunicadores e negociadores em nome de seu governo os põem cada vez mais à prova, em muitos casos diante de públicos e governos estrangeiros cada vez menos benevolentes. Por consequência, o governo tem procurado reestruturar e reforçar seu serviço externo de múltiplas maneiras.

A América Latina é um exemplo ilustrativo dessa tendência e de seus desafios contínuos. Como fronteira mais distante na estratégia 走出去 [Going Out], chegou tarde para se beneficiar do crescimento exponencial do comércio, do rápido aumento de fusões e aquisições por empresas chinesas, de empréstimos bilionários e de uma série de intercâmbios culturais, educacionais e científicos.

As visitas oficiais dos principais líderes chineses à região aumentaram até se tornarem um acontecimento quase anual entre 2008 e 2019, e fóruns de cooperação multilateral de alto nível começaram a florescer. Essa tendência multidimensional tem sido respaldada por um corpo diplomático crescente e cada vez mais versátil no terreno, que ganhou maior visibilidade no processo.

O vice-presidente da China, Wang Qishan, cumprimenta Lula na posse - Ricardo Moraes - 1°.jan.2023/Reuters

Rastreando carreiras e movimentos dos diplomatas chineses na América Latina desde 1990, pude identificar trajetórias e padrões que iluminam uma estratégia de Pequim focada em atingir objetivos nacionais e internacionais. Ao traçar os perfis de seus emissários na região, surge a imagem de uma estratégia diplomática variada e cada vez mais refinada. Torna-se evidente que os diplomatas chineses (apesar de suas hierarquias internas) adotaram a "diplomacia de rede" e procuraram melhorar sua comunicação intercultural.

O desenvolvimento estratégico da China e seu corpo diplomático na América Latina sugerem que têm nutrido diplomatas com o caráter e as habilidades corretas. Liderado por seu Ministério de Relações Exteriores, o governo de Pequim criou um corpo diplomático amplo e variado com experiência regional e perspicácia global, assegurando que a China possa perseguir seus objetivos nacionais e internacionais e participar ativamente de conversas globais e locais.

Ao explorar os perfis e carreiras individuais de diplomatas chineses na região, é possível caracterizar melhor e permitir uma maior compreensão de um aparato muito mais amplo. Vários dos enviados que lideram os esforços diplomáticos da China na América Latina são indivíduos cujo enfoque oferece um contrapeso ao tom assertivo de um pequeno número de seus pares chamados "diplomatas lobos guerreiros": o enfoque assertivo deste último grupo é uma exceção à regra e está em grande parte ausente da estratégia da China para a América Latina.

O principal objetivo dos enviados de Pequim para a região tem sido, aparentemente, criar boa vontade através de uma maior visibilidade e acessibilidade e garantir um entorno favorável, no qual os objetivos comerciais e de investimento da China possam crescer.

Este texto foi originalmente publicado no site da REDCAEM

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