Pronto, a pandemia agora assombra Natal, Ano Novo, férias e a escola em 2021. Ninguém tem mais a ilusão de que a volta às aulas será normal. E passamos a temer que não seja nem “novo normal” e, sim, que simplesmente não aconteça o retorno.
Diante do vaivém de informações sobre uma segunda onda no Brasil, no país que bateu o recorde mundial de tempo sem escolas abertas, não se pode descartar a possibilidade de que o fechamento de 2020 simplesmente emende com outro em 2021. Vamos esperar a vacina, a imunidade de rebanho, o fim da polêmica da cloroquina e os inquéritos sorológicos de todas as cidades brasileiras.
Sigamos acreditando que aulas on-line funcionam, vamos cair no novo marketing da educação, o de que escola boa é escola que investe em ensino a distância. E deixemos para lá essa preocupação com efeitos gravíssimos para a saúde física e mental no confinamento prolongado de crianças e adolescentes. Abre-se tudo, menos as escolas.
Maior cidade brasileira, São Paulo terá nove meses de fechamento, com a exceção do ensino médio, que voltou apenas em novembro e com 20% dos alunos. A restrição vai contra inclusive à orientação do governo do Estado de que as escolas já podiam estar funcionando desde setembro para extracurricular e de outubro para aulas regulares.
Na fase verde da retomada, quando até cinemas estão abrindo, o plano estadual autoriza que 70% dos alunos frequentem as escolas. A divergência entre gestões aliadas e do mesmo partido, com os tucanos João Doria no governo e Bruno Covas na prefeitura, isso sem falar do desgoverno federal, leva a disputas judiciais.
Na mais recente batalha, o sindicato de escolas particulares (SEEESP) entrou nesta semana com uma ação civil pública pedindo que o município amplie para os 70% de estudantes já permitidos pelo Estado. Seja qual for o resultado, o impacto será pequeno a poucas semanas do fim do ano letivo. E a insegurança das famílias só aumenta nesse cenário.
Enquanto isso, na Europa, em que o país que por mais tempo manteve as escolas fechadas, a Itália, as reabriu com menos de três meses, a segunda onda trouxe uma nova concepção para o confinamento social: fecha-se tudo, menos as escolas. Do “fique em casa”, passa-se ao “fique em casa para que as crianças possam ir à escola”.
A decisão se pauta na constatação dos enormes prejuízos sociais causados em razão fechamento das instituições de ensino neste ano, inclusive o aumento da violência contra crianças. E olha que na Europa o fechamento dificilmente passou de dois meses e que as escolas ou abriram antes de outros estabelecimentos, como comércio e restaurantes, ou ao mesmo tempo.
Na opção pela educação como prioridade, as escolas entram na lista de estabelecimentos essenciais, como hospitais e mercados. A ordem é que os fechamentos sejam pontuais, quando necessários –a Itália, por exemplo, optou pelo ensino médio remoto–, e mais radicais somente em último caso.
Enquanto isso, vamos por aqui tentar entender e explicar às crianças e aos jovens por que tudo voltou ao normal, mas que só se pode ir às escolas para votar.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.