Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Empresário prevê que alunos poderão alternar entre escola na capital e no interior

Para dono do grupo Red House, educação privada seguirá o boom imobiliário gerado pela pandemia nas cidades próximas a São Paulo

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Quando a pandemia fechou as escolas no Brasil, em março de 2020, Michel Lam, dono do grupo Red House, de escolas internacionais, pegou o telefone da secretaria das duas unidades de São Paulo, do Pacaembu e de Santa Cecília, e instalou no seu quarto.

Foi de lá que atendeu aos pais dos alunos para tirar dúvidas sobre o ensino remoto e negociar descontos nas mensalidades. Quanto mais se passava o tempo de confinamento, mais famílias da escola, de classe A, iam para casas de praia ou de campo, e, com a perspectiva da retomada das aulas presenciais, Michel passou a ouvir a seguinte pergunta: “Meu filho poderia estudar na capital de terça a quinta-feira e no interior [ou no litoral] às segundas e às sextas?” E eles não estavam falando de aula online. O sonho de consumo era que a escola tivesse unidades nos dois lugares.

Isso não é possível por ora, mas, na avaliação de Michel, não deixa de ser um caminho para o futuro, não só para a Red House, como para outras escolas voltadas a esse público. Para isso, será necessária uma maior presença em cidades próximas à capital e investimento em tecnologia para que todas as unidades estejam sempre no mesmo ponto do aprendizado. Por fim, será preciso autorização dos conselhos de educação.

Parque da unidade de Jundiaí da Red House; crescimento nas cidades próximas à capital é estratégico para o grupo - Divulgação

A demanda entrou no radar de Michel, 46, que há quase 20 anos, em 2002, transformou a Red Balloon, fundada por sua mãe, Raquel Lam, em 1969, em uma das maiores franquias de escolas de inglês do país, com mais de 80 unidades. A família vendeu o grupo em 2015 e se voltou ao investimento em educação básica bilíngue.

Já havia então a primeira unidade do novo negócio, a Red House International School, inaugurada em 2010 no Pacaembu, com ensino infantil. Em 2018, foram investidos R$ 50 milhões na sede para o fundamental, um prédio tombado em Santa Cecília. Em 2019, houve a inauguração da escola de Jundiaí, no interior de SP, e da de Recife, com um sócio local. No ano passado, foram lançadas a nova unidade paulistana, em um imóvel histórico do Ipiranga, e a primeira afiliada do grupo, em Curitiba —a família Lam, nesse caso, vende a metodologia de ensino, sem participação societária.

Com um aporte de R$ 110 milhões, do fundo de investimento Gama, o grupo se prepara para ter 20 unidades até 2023. Em 2022, serão inauguradas a unidade de Santo André e, na capital, uma vizinha ao parque Villa-Lobos, do infantil ao médio, com 11 mil m2, que custou R$ 40 milhões. Até o final do próximo ano, outras nove serão lançadas, entre elas unidades na capital (Santana e Tatuapé), no interior (São José dos Campos e Valinhos) e no litoral (Santos). E aí a pandemia entra no tabuleiro. Michel vê como natural que o boom imobiliário que o confinamento gerou em cidades próximas a São Paulo seja acompanhado de um crescimento das escolas particulares de elite.

Além das famílias que se mudaram para cidades menores, há aquelas que passaram a se dividir entre a capital e uma casa no interior ou no litoral. Com a retomada das aulas presenciais, o deslocamento tem de voltar ao esquema pré-confinamento, com as viagens concentradas no final de semana, apesar de muitos pais seguirem com o trabalho remoto. Surge daí a ideia de que as crianças possam frequentar a mesma escola em duas cidades diferentes. Michel também não descarta que haja uma demanda das famílias para que seja mantida, em algum grau, a experiência híbrida.

Não seria, ele diz, esse ensino híbrido da pandemia, improvisado, “que, por melhor que seja, é ruim”. Teria que ser algo elaborado especificamente para esse fim, com grupos pequenos e professores exclusivos para as atividades remotas, Michel acredita. As novas possibilidades, para o empresário, se colocam “em uma ponte que a educação já estava cruzando, mas cuja travessia foi acelerada pela pandemia”. “Daqui a dez anos, pouco restará nas escolas do que fazíamos dez anos atrás”, ele acredita.

Segundo Michel, o grupo sofreu prejuízos na pandemia, com a perda de alunos do infantil, o aumento da inadimplência e com a necessidade de conceder descontos —na capital, a mensalidade varia de R$ 4.000 a R$ 6.500. Por outro lado, a retomada parece ter acelerado duas tendências educacionais pré-pandemia que são a base do modelo da Red House: ensino bilíngue e integral. Após o prolongado fechamento das escolas, o período integral se colocou como opção, no período de revezamento de alunos, para as famílias que davam preferência às aulas presencias. Com mais horas de aulas por dia, aumentam as chances de receber os estudantes com maior frequência. Além disso, ampliam-se as oportunidades para recuperar o conteúdo perdido. Já o ensino bilíngue pode eliminar a necessidade de se frequentar uma escola de inglês, o que reduz a rede de contatos e, consequentemente, o risco de contaminação.

Enquanto a rede pública, que representa 85% da educação básica brasileira, sofre na pandemia com a explosão da evasão escolar e com uma falta de acesso de parte dos alunos às aulas que pode chegar a dois anos, as escolas de elite incorporam demandas como mobilidade, segurança, qualidade de vida... e luxo. A Red House entrou na concorrência para montar uma unidade no complexo de condomínios Boa Vista, em Porto Feliz, a uma hora da capital. Em um deles, haverá até mar artificial com onda. Com (muito) dinheiro, dá até para estudar no interior e na praia ao mesmo tempo.

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