Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Ambientalistas contra a ciência

Oposição a defensivos agrícolas, transgênicos e energia nuclear lembra o movimento antivacina

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Movimentos pseudocientíficos seguem padrões. Desprezam estatísticas e evidências que contrariam suas crenças, traçam generalizações a partir de casos isolados e se apegam a teorias conspiratórias.

Esse comportamento não está restrito aos ativistas contrários a vacinas: também é comum em parte dos ambientalistas.

Semana passada, por exemplo, deputados aprovaram novas regras para a aprovação de agrotóxicos no Brasil. Para o Observatório do Clima, a lei surgiu porque "a bancada do câncer quer colocar mais veneno no seu prato".

Ao fazer uma afirmação dessas, a organização reproduz uma teoria conspiratória muito próxima de "a bancada da vacina quer implantar chips no seu cérebro".

Cartazes em São Paulo com imagens de deputados que apoiam o chamado PL do veneno, que facilita registro de agrotóxicos no Brasil; intervenção na avenida Paulista próximo a rua Augusta
Cartazes em São Paulo com imagens de deputados que apoiam o chamado PL do veneno, que facilita registro de agrotóxicos no Brasil; intervenção na avenida Paulista próximo a rua Augusta - Ronny Santos/Folhapress

Maior diversidade de substâncias não resulta em maior quantidade. Pelo contrário, produtos novos costumam aposentar os antigos, que em geral são menos precisos e mais prejudiciais.

Quem se preocupa com a saúde e o meio ambiente deveria apoiar, em vez de se opor, a inovação e a ciência nessa área.

Quando se diz que comer alimentos da agricultura tradicional é "botar veneno no prato", joga-se no lixo anos de trabalho de pesquisadores que estudaram os riscos, a toxicidade e a ingestão diária aceitável das substâncias.

E comete uma generalização similar a "não tomo remédio da farmácia porque eles causam câncer". Ora, o que faz o veneno é a dose. Por isso mesmo confiamos em cientistas para saber a dosagem recomendada de remédios tanto para humanos quanto para plantas.

A postura anticientífica é ainda mais evidente com o glifosato, o herbicida mais usado no mundo.

Como a bióloga Natalia Pasternak já explicou diversas vezes, o glifosato bloqueia uma via enzimática que existe em plantas, não em animais. Por isso a toxicidade para humanos é baixíssima, menor que a de sal, café ou chocolate.

A OMS rejeitou em 2016 a ideia de que essa substância causaria câncer ou afetaria o sistema endócrino de consumidores ou trabalhadores rurais. Dezenas de revisões recentes vão na mesma linha.

Apesar da disso, o Greenpeace continua reproduzindo a fake news de que o glifosato é cancerígeno e está relacionado a abortos espontâneos ou más-formações fetais.

Outro exemplo é a energia nuclear. No começo de fevereiro, uma comissão de especialistas da União Europeia recomendou classificá-la como verde, a fim de facilitar investimentos na transição energética.

Para quem está preocupado com a mudança climática, foi uma excelente notícia. Usinas nucleares emitem 3 toneladas de carbono por gigawatt-hora, menos que energia solar (5 toneladas), eólica (4) e que as hidrelétricas (34), segundo o Our World in Data.

Mas a WWF, o Greenpeace e a ativista Greta Thunberg seguem aterrorizados com o acidente de Chernobyl. Pressionam o Parlamento Europeu para votar contra o parecer.

É uma postura muito parecida com a de quem prefere viajar de carro porque viu na TV notícias de acidentes de avião.

Ao contrário da crença popular, as estatísticas mostram que a energia nuclear é uma das mais seguras que existem. Causa 0,08 morte por terawatt-hora gerado, contra 2,82 do gás e 18 das termelétricas a óleo diesel.

Os climatologistas James Hansen e Pushker Kharecha concluíram que a difusão da energia nuclear entre 1971 e 2009 evitou 1,84 milhão de mortes ao substituir fontes mais prejudiciais.

Se ambientalistas tão prontamente clamam para que se "ouça a ciência" quando o tema é mudança climática, eles próprios deveriam ouvir a ciência quando se trata de defensivos agrícolas e energia nuclear.

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