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Canadá ameaça prender manifestantes antivacina após 3 semanas de protestos

Lei de Emergências será apresentada nesta quinta, e população acredita que atos devem acabar

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São Paulo

Apesar da pressão do governo canadense, manifestantes mantêm nesta quinta-feira (17) o bloqueio que já dura três semanas na capital Ottawa, enquanto autoridades alertam para a presença de extremistas entre aqueles que querem derrubar o governo.

A polícia distribuiu nesta quarta (16) panfletos a caminhoneiros e outros que aderiram à paralisação do centro da cidade dizendo que deveriam sair ou seriam presos, mas a iniciativa não gerou grandes movimentações nos cerca de 400 veículos.

Manifestante protesta contra governo do Canadá e restrições da pandemia em frente ao Parlamento, em Ottawa
Manifestante protesta contra governo do Canadá e restrições da pandemia em frente ao Parlamento, em Ottawa - Ed Jones - 16.fev.22/AFP

Para Andrew Broe, um caminhoneiro de Ontário, o aviso é "um incentivo". "Eles estão tirando sarro tentando remover um protesto pacífico", disse ao jornal americano The New York Times.

Apesar de barulhento, o protesto de Ottawa não tem sido violento. Um manifestante que não quis se identificar disse à agência Reuters não ter medo e afirmou que permaneceria no local pacificamente —e que, se a polícia tentasse prendê-lo, seria preso pacificamente também.

Nesta quarta, os organizadores do ato convocaram mais pessoas a Ottawa, para ajudar a frustrar os esforços da polícia, ainda que a corporação tenha alertado que quem se juntasse à manifestação na capital estaria infringindo a lei.

Já nesta quinta, Pat King, um dos líderes, publicou um vídeo no Twitter alertando a polícia para recuar. "Saia de perto. Desista. Ponha seu distintivo no chão… E se junte às pessoas", afirmou. "Quando isso chegar ao fim, apenas seguir regras não vai ser uma boa defesa legal."

Em comunicado, o chefe interino da Polícia de Ottawa, Steve Bell, subiu o tom e garantiu que todo o centro da cidade e qualquer espaço ocupado serão retomados. Ele acrescentou ainda que ações serão tomadas nos próximos dias e que levará tempo para fazer o certo.

Os manifestantes protestam contra a obrigatoriedade da vacina e as restrições impostas para conter a pandemia de Covid-19, mas há também quem tenha deixado clara sua oposição ao primeiro-ministro Justin Trudeau.

O ministro da Segurança Pública, Marco Mendicino, alertou que uma parte dos manifestantes "tem uma forte ligação com uma organização de extrema direita que têm líderes em Ottawa". Ele se referia à prisão de 13 pessoas em Alberta, no começo da semana, ligadas ao bloqueio de um ponto da fronteira com o estado de Montana, nos EUA, que está desde então liberada.

Segundo a polícia, o grupo pertencia a uma pequena célula na província que planejava usar violência se os agentes tentassem desmobilizar o ato. Diversos armamentos, incluindo 13 armas de cano longo, revólveres, um facão, vários conjuntos de armaduras e uma grande quantidade de munição e revistas foram descobertos em trailers em Alberta.

Quatro pessoas do grupo, cujos integrantes tinham entre 18 e 62 anos, foram acusadas de conspiração para matar oficiais, e a maioria dos demais por posse de armas.

Pressionado, Trudeau declarou estado de emergência nacional na segunda (14), o que permite ao governo usar a força para tentar acabar com os atos. O premiê invocou ainda uma Lei de Emergências que, segundo o ministro da Justiça, David Lametti, será apresentada na Casa dos Comuns nesta quinta.

O partido de esquerda Novos Democratas disse que apoiaria o governo liberal de minoria, garantindo que a legislação seria aprovada.

Apesar do tom duro de Trudeau, que também anunciou o bloqueio da conta bancária de quem participasse dos atos, são repetidas as críticas ao governo, tido como ineficaz e lento para conter os protestos. A tensão levou à renúncia do chefe da Polícia de Ottawa, Peter Sloly, nesta semana.

Enquanto o impasse segue entre governo e manifestantes na capital —o movimento parece perder força em outras partes do país—, a paciência dos canadenses diminui a cada dia. Uma pesquisa de opinião divulgada nesta semana pelo Instituto Agnus Reid mostra que 72% dos entrevistados acreditam ter chegado a hora de encerrar os protestos.

"Se o objetivo do Comboio da Liberdade era chamar a atenção de milhões de pessoas no Canadá e ao redor do globo –missão cumprida", diz a publicação do instituto. "Se, no entanto, o objetivo era angariar apoio para suas demandas de acabar com as restrições ligadas à pandemia –o tiro saiu pela culatra."

Diante da repercussão negativa, muitos caminhoneiros têm tentado se afastar do chamado Comboio da Liberdade, segundo relata o jornal americano The Washington Post. Eles veem o movimento como radical e dizem ter mais prejudicado do que ajudado a indústria.

As associações canadenses de caminhoneiros e as autoridades apontam que apenas uma pequena parte se juntou aos atos e que a maioria está vacinada.

Com Reuters e The New York Times

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