É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.
Mudança na Fifa não garante ciclo de moralidade
Pergunte a qualquer torcedor de futebol, brasileiro ou estrangeiro, se já ouviu falar do suíço Gianni Infantino. Provavelmente, a resposta será negativa. Pergunte o mesmo para jogadores profissionais de um clube daqui ou de fora. Provavelmente, a maioria dirá que não tem ideia de quem seja o novo presidente da Fifa.
Para quem esperava uma revolução na entidade depois do terremoto de 2015, a eleição realizada nesta sexta (26) em Zurique é frustrante. Como de praxe, os principais personagens do futebol - torcedores e jogadores - passaram longe da escolha de quem o dirige.
Gianni Infantino, 45, é secretário-geral da Uefa e cria do ex-jogador francês Michel Platini, banido do futebol por seis anos por receber US$ 2 milhões dos cofres da Fifa em 2011.
Seu principal adversário foi o xeque Salman bin al-Khalifa, membro da família real do Bahrein. O xeque começou a "carreira" de cartola no comando do futebol local, hoje 130º colocado no ranking da Fifa. Sua biografia não menciona que já tenha jogado uma pelada sequer na vida.
É difícil apostar em um ciclo de moralidade na cartolagem a partir de agora. Não há razões para otimismo. A única certeza é que a vitória de Infantino devolve à Europa o comando do futebol mundial perdido para João Havelange em 1974, quando o brasileiro tirou o inglês Stanley Rous, que estava no cargo desde 1961. Embora seja suíço, Joseph Blatter, sucessor de Havelange, sustentou-se anos no poder com o apoio da cartolagem africana, asiática e sul-americana. Sua relação com a Uefa sempre foi conflituosa.
O colégio eleitoral que escolhe o presidente da Fifa explica muita coisa do que ocorre por lá. A decisão ficou nas mãos de 207 federações filiadas à entidade, muitas delas subservientes e integrantes de esquemas de desvios de dinheiro que perpetuaram por décadas cartolas no comando da Fifa e de confederações, entre eles os últimos dirigentes da CBF.
No dia 27 de maio do ano passado, Zurique amanheceu sob o susto de uma operação policial, decorrente de investigação do FBI, que prendeu sete cartolas que participariam do congresso da Fifa naquela semana. Entre os presos estava o ex-presidente da CBF José Maria Marin, que hoje cumpre prisão domiciliar nos Estados Unidos sob acusação de recebimento de propina.
Meses depois das prisões na Suíça, veio a derrocada de Joseph Blatter, banido das atividades do futebol por seis anos por causa do escândalo do pagamento a Platini, apontado, antes de ser punido, como o favorito para suceder o suíço.
No congresso da entidade nesta sexta, a Fifa aprovou um pacote de medidas que buscam mais transparência. Agora, os salários dos seus dirigentes, incluindo o presidente, serão publicados. Seus mandatos são limitados a 12 anos. É muito pouco para uma entidade que vive a maior crise de sua história.
As mudanças, aliás, não são vinculantes às federações nacionais. Na prática, muda-se algo na Suíça, mas nada fora dali. O representante da CBF hoje na Fifa, por exemplo, é o empresário Fernando Sarney, cujas credenciais dispensam apresentações.
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