Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Rússia

Prisão de general da Rússia é começo do expurgo após motim de mercenários

Serviços de inteligência dos EUA tinham conhecimento antecipado dos planos do Wagner, mas Washington se calou

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O líder mercenário Ievguêni Prigojin tinha aliados no comando militar russo? O general Serguei Surovikin, apontado pelo jornal The New York Times como aliado do chefe do Grupo Wagner, foi preso nesta quarta-feira (28). O porta-voz do Kremlin disse, horas antes, que a notícia era "fofoca."

A revelação do jornal americano foi atribuída a fontes do governo Biden que leram relatórios de inteligência sobre a marcha interrompida dos mercenários em direção a Moscou. Surovikin era comandante das tropas russas na Ucrânia e ainda influente nas decisões da guerra.

O general russo Serguei Surovikin durante visita do presidente Vladimir Putin às tropas envolvidas na Guerra da Ucrânia - Gavriil Grigorov - 17.dez.22/AFP

Serviços de inteligência americanos tinham conhecimento antecipado dos planos dos mercenários, mas Washington se calou, antecipando a previsível acusação, feita pelo governo russo, de que a rebelião era fruto de uma conspiração ocidental.

Na batalha de espionagem entre os dois inimigos da Guerra Fria, o governo americano dá sinais de que se recuperou da humilhação imposta pela comprovada interferência na eleição presidencial de 2016, que ajudou a plantar Donald Trump, fanboy de Vladimir Putin, na Casa Branca. A decisão de divulgar os planos da invasão da Ucrânia, meses antes de ela se concretizar, em fevereiro de 2022, foi orquestrada com eficácia que negou a Putin a chance de inventar uma falsa desculpa militar.

Acaba de sair nos EUA um livro enciclopédico sobre a rivalidade dos serviços de inteligência, "Spies: The Epic Intelligence War Between East and West" (espiões: a épica guerra de inteligência entre Oriente e Ocidente). O autor, Calder Walton, é historiador especializado em Segurança Nacional da Universidade Harvard. A edição britânica está saindo atualizada com a revelação, confirmada pelo New York Times, de que, em 2020, Putin tentou assassinar um importante informante russo da CIA que morava na Flórida.

A operação fracassada marcou a primeira vez que um agente caçado por Moscou seria eliminado em território americano, um limite nunca cruzado nem mesmo nos mais tensos momentos da Guerra Fria.

"Spies" é rico em detalhes sobre o despreparo da espionagem dos EUA e do Reino Unido quando a Segunda Guerra já devastava a Europa. Deixa claro que, enquanto os dois países viam na União Soviética um parceiro contra Hitler, Josef Stálin não deixou que os objetivos imediatos da guerra diminuíssem o ritmo das operações para penetrar os governos ocidentais.

De fato, os maiores sucessos de espionagem da União Soviética naquele período não foram contra a Alemanha nazista, mas contra os Aliados e culminaram com o roubo dos segredos da bomba atômica, iniciado quatro anos antes do bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagasaki em 1945.

O autor argumenta que a Guerra Fria começou muito antes do final da Segunda Guerra. Já a partir dos anos 1920, Moscou atraía, repatriava e executava dissidentes no exterior, usando falsos grupos de militância antibolchevique que foram formados na Europa.

Walton revela ainda um relatório que chegou ao serviço de inteligência britânico num dia de fevereiro. Um agente de confiança escreveu que o governo russo havia admitido que a Ucrânia só poderia ser dominada e abastecer a Rússia de alimentos por meio da força militar, porque o povo ucraniano era "hostil aos russos e às suas ideias."

O relatório era de fevereiro de 1922, não 2022. O livro é leitura útil para a turma de Brasília que reduz a realidade a "quando um não quer, dois não brigam".

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