Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Com diretor de 'Corra!', novo 'Além da Imaginação' é muito 'Black Mirror'

Jordan Peele e a CBS captaram o calibre político da série e lapidaram-no para novos tempos e novos medos

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Não havia surgido nesta década diretor americano com tamanho vigor para falar de política com o grande público até Jordan Peele. Após os excepcionais "Corra!" (2017) e "Nós" (em cartaz), cabe a ele recriar para uma plateia cujo medo evoluiu o clássico sexagenário "Além da Imaginação".

A missão é duríssima. Trata-se, afinal, de um dos programas de TV mais conhecidos e amados, que durou seis anos (1959-64) e marcou ao menos três gerações. Suas tentativas de reencarnação foram várias e envolveram de Steven Spielberg a Forest Whitaker.

Homem à frente de cortina dourada
O comediante e diretor Jordan Peele é o narrador da nova versão de ‘Além da Imaginação’ - Divulgação

Nenhuma fez sombra ao original, e é possível que a nova, que estreou dia 1º de abril nos EUA pela CBS, tampouco faça. Há, no entanto, motivos suficientes para esperar dela um novo e provocativo clássico.

Egresso do humor de esquetes na TV, Peele pariu em sequência duas obras-primas para o cinema abordando temas políticos que lhe são caros (racismo e imigração) no que chamou de "terror social".

Fez isso com humor ora ácido ora escrachado (como nas esquetes de "Key and Peele", com Keegan-Michael Key), alguma leveza e roteiros que não parecem nada que se tenha visto por aí, apesar das muitas referências inseridas.

Pelo primeiro episódio, "O Comediante" (Kumail Nanjiani, de "Silicon Valley", é um comediante que faz um pacto com um demoníaco Tracy Morgan), a nova versão fica aquém dos filmes do diretor.

Fica aquém, também, dos melhores episódios de outra série cultuada à qual vem sendo comparada, "Black Mirror".

Mas a marca de Peele, que assume o papel de narrador, é evidente, e o roteiro escrito com Simon Kinberg e Marco Ramirez (versados em histórias de heróis) é magnético.

"Além da Imaginação", o original, sobressaiu como uma série que abordava o sobrenatural em crônicas do dia a dia. Era um tipo de suspense muito em voga no alvorecer da Guerra Fria, e os medos ali evidentemente eram outros.

Peele e a CBS, ao contrário dos que tentaram reavivar a série antes deles, captaram o calibre político que a série oferecia, e lapidaram-no para novos tempos e novos medos.

Do que falam aqui? Coisas como notoriedade e fama; tensão de cidadãos negros diante da polícia; a relação entre público e mídia e nossa ansiedade em saber tudo o tempo todo, sobretudo catástrofes.

No caso deste último (o segundo dos dez contos previstos para esta temporada), um episódio do programa original é revisitado e reconstruído.

Somam-se o olhar político discreto e humor casual a marcar o suspense, como em "Corra!"/"Nós", levemente pasteurizado para a TV aberta.

No original, o sucesso do programa coube em muito à aptidão do narrador-criador. Rod Serling (1924-75), também um outsider para os padrões do showbiz de então, era um gênio nesse ofício, e Peele, aos 40, não é menos que isso.

Por ora, ele não achou o tom eminente do antecessor —e talvez nem tente, seja por sabê-lo insubstituível ou por saber-se tão ligado ao agora. São duas qualidades já.

O novo “Além da Imaginação” (“The Twilight Zone”) pode ser assistido pelo canal da CBS no YouTube com uso de mascarador de IP (proxy ou VPN); o antigo está disponível na Amazon Video 

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