Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Melhor estreia do mês, 'Inacreditável' expõe peso sobre vítimas de estupro

Série adapta em oito episódios reportagem publicada em 2015 pelo site ProPublica

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A atriz Merritt Wever estava em um avião quando leu a reportagem que serviu de base à série “Inacreditável”, principal estreia da Netflix na última semana, e a primeira versão do roteiro. As mãos começaram a empipocar. A vermelhidão chegou ao rosto. “Foi raiva”, concluiu em entrevista recente a um canal canadense.

Raiva —e empatia como a de Wever— são as duas forças que tomam o espectador da série e que teriam dado outro desfecho à história caso elas tivessem, desde o início, determinado as ações dos personagens reais aqui retratados.

“Inacreditável” adapta em oito episódios a reportagem “An unbelievable story of rape” (uma história inacreditável de estupro), publicada em 2015 pelo site ProPublica. Conta a via-crúcis de Marie (Kaitlyn Dever), adolescente com histórico de abandono que troca a casa de tutores para viver só, sob um programa social, em uma cidadezinha de Washington, noroeste dos EUA.

Um dia ela é acordada por um homem mascarado que prende suas mãos com cadarços de tênis, a amordaça e a estupra. Ele usa luvas, camisinha e uma faca que recolheu no próprio apartamento da menina para ameaçá-la.

Atônita e sozinha, depois que o homem sai, Marie chama a antiga tutora, a polícia e os orientadores do programa social que a acompanha. Relata o estupro a cada um deles, exaustivamente. As perguntas que recebe, entretanto, são mais sobre seu comportamento e seu estado mental do que sobre o suspeito.
O caso, além de real, é representativo. Datado do passado próximo (2008), ele mostra quão penoso é, ainda, para uma mulher relatar uma violência sofrida (sim, as Najilas são minoria). 

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública para 2018 indicam que o Brasil registrou 180 estupros por dia; a Rainn, associação de vítimas nos EUA, estima que lá sejam 580. Nos dois países, estudiosos veem subnotificação. “Inacreditável” mostra por quê.

Marie não encontra empatia naqueles com quem convive e muito menos na dupla de policiais (homens) que registram sua queixa. Depois de repetir em looping o que viveu, submeter-se a exames e ser recebida com dúvida, ela é pressionada a dizer que inventou tudo. E passa a responder criminalmente por isso.

Foi preciso haver mais crimes para ficar óbvio que a adolescente disse a verdade. Isso só veio com o trabalho de duas policiais do Colorado, em 2011, que ao se depararem com crimes similares decidem unir forças e descobrem um estuprador serial. A reportagem da ProPublica chamou a atenção para a sucessão de falhas.

Na série criada por Susannah Grant (“Erin Brockovich”), cujos três primeiros episódios são dirigidos por Lisa Cholodenko (“Minhas Mães e Meu Pai”), a diferença de tratamento das detetives é evidenciada. O fato de serem interpretadas pelas premiadas Toni Collette e Wever (“Sem Deus”) dá força a essa relação.

É um roteiro que usa o formato quebra-cabeças criminal para reter o espectador. Mas, nele, importam mais as perguntas do que as respostas. “Mas ela não deu queixa?” precisa deixar de ser uma delas.

“Inacreditável” está disponível na Netflix

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