Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona Séries

'Handmaid's Tale' chega ao final com realpolitik e rompimento da alegoria

Último episódio da quarta temporada da série inspirada em livro de Margaret Atwood estará disponível no domingo (20)

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De tudo o que atravessa "Handmaid's Tale" e seus personagens de caráter dúbio, uma constante guia o espectador por tanta desgraça. Não se trata, porém, da motivação de June, a protagonista, por recuperar sua filha mais velha, ainda que esta norteie a série pela maior parte do tempo. É o otimismo inabalável de Janine que nos impede de desistir mesmo quando a história nos parece insuportável.

Neste ponto estamos ao fim de sua quarta temporada, cujo último episódio vai ao ar no Brasil neste domingo.

A sucessão de reveses enfrentados pela protagonista e seu círculo próximo faz com que mesmo vitórias parciais em capítulos recentes pareçam vacilantes, e acompanhar suas agruras em um momento em que o noticiário não dá trégua a nossos ânimos tem sido muitas vezes excruciante.

Eis que há Janine, personagem de Madeline Brewer, que desde o início acompanha a June de Elisabeth Moss como espécie de sombra luminosa (contradição proposital aqui).

Janine é quem não perdeu a esperança, mas se conforma à realidade mesmo em seus piores momentos, tratando de levar algum conforto sentimental a quem está perto. Não é poliana, que ignora a maldade alheia, tampouco alguém politicamente alienada ou de simpatias divididas até diante de um totalitarismo --ela sabe bem de que lado samba.

Aquilo que pareceu, até então, conformismo ou ingenuidade contrasta com a megalomania de June de uma forma inescapável no penúltimo episódio. Quem é voluntarista e quem é pragmática? Quem enxerga o todo e quem vê apenas as próprias ideias?

A protagonista de Margaret Atwood virou um ícone progressista desses tempos turbulentos, e há muito que justifique isso. No avançar da história, porém, June, em sua odisseia, se aproxima dos fanáticos a quem combate, ainda que com escopo reduzido.

Nenhuma simpatia por fanáticos, mas não deixa de ser uma reviravolta incômoda o chacoalhão que ela recebe no nono episódio em forma de realpolitik, quando uma decisão do líder americano no exílio recria um velho dilema moral: é melhor prejudicar poucos e beneficiar muitos ou manter a ética estrita, fazendo com que cada um responda por seus atos, mesmo que isso deixe em segundo plano a oportunidade para algo maior ou melhor?

"Handmaid's Tale" sempre foi política e principista ao mesmo tempo, sempre alternou o que se almeja ao que se pode fazer, sempre foi June e Janine como se uma fosse impossível sem a outra. Em nenhum momento até agora, porém, o conflito entre essas duas coisas havia sido apresentado como ele sói ser no mundo real.

Ao fazer isso, a série estende sua mão ao espectador, rompendo da alegoria para o mundo concreto, este aqui, onde se ouviu e se ouvem os ecos da Gilead imaginada por Atwood. Quando faz isso, é difícil não sentir na espinha esse urro de uma June decepcionada com suas próprias crenças. Não há, afinal, quem não o sinta.

O último episódio da quarta temporada de 'Handmaid's Tale' estará disponível no Paramount a partir do primeiro minuto deste domingo (20).

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