Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Falando a Real' faz Jason Segel e Harrison Ford de terapeutas e conforta como um abraço

Série na Apple TV tem mesmos criadores e mesmo otimismo de 'Ted Lasso'

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Poderia haver uma categoria de série chamada "equivale a um abraço " para abarcar "Falando a Real" ("Shrinking", ou "terapizando", no mais bem resolvido título original). Despretensiosa e povoada por personagens instigantes, é essa a sensação que fica após alguns capítulo dessa pequena maravilha escrita pela dupla que assina "Ted Lasso" —Brett Goldstein e Bill Lawrence— e por Jason Segel.

Segel faz o protagonista em uma série cheia de coadjuvantes bem construídos. Ele é Jimmy, um psicoterapeuta que enviuvou de repente e se afastou da filha, dos amigos e dos colegas para evitar se lembrar demais da mulher. Ao construir sua muralha, Jimmy às vezes recorre a remédios pesados, álcool e sexo vazio. Às vezes, também, recorre a interferir abertamente na vida de seus pacientes.

Os capítulos da dramédia, no ar pela Apple TV desde o fim de janeiro e com episódios semanais, à moda antiga, desvelam as lacunas de Jimmy aos poucos, sempre em paralelo com as daqueles que o rodeiam dentro e fora do consultório.

É um terapeuta que anseia por solidão, tipo não raro na ficção, mas que treme ao diagnosticá-la nos outros e busca aplacá-la de jeitos pouco ortodoxos. Em comum com Ted Lasso, tem o otimismo recalcitrante que serve melhor aos problemas alheios do que aos seus.

Segel é um ator que se consagrou pelo papel de Marshall em "How I Met Your Mother", o do cara inabalavelmente gente-boa, mesmo quando erra (e como erra). Vê-lo trabalhado na amargura causa alguma estranheza, e disso vem muito do humor da série.

"Falando a Real", no entanto, é uma dessas produções que triunfam por causa de algo muito mais difícil de achar do que um roteiro bem escrito e diálogos espertos: química entre os atores.

A Segel se juntam Harrison Ford, como Paul, um terapeuta seco e sarcástico que serve de mentor ao protagonista, mas sufoca seu medo do mal de Parkinson que avança; Jessica Williams, como Gabby, a feliz-demais-para-ser-real terceira inquilina do consultório; Luke Tennie, no papel do veterano de guerra Sean, um paciente convertido em amigo; e Christa Miller, que vive a vizinha enxerida/salva-vidas Liz.

As interações entre quaisquer nomes dessa lista —e de Ford com qualquer ator da série, o que inclui os ácidos e doces diálogos com Lukita Maxwell, como a filha adolescente e órfã de Segel — fluem com tanta naturalidade que eventuais exageros do roteiro logo se dissipam, e as desgraças em tela acabam por mostrar que os outros não são o inferno, mas a salvação. Mesmo que nos irritem.

Em tempos de relações sociais estropiadas por três anos de pandemia, "Falando a Real" resgata uma ternura sofrida, mesmo que faça isso de maneira sutil (mais sutil que "Ted Lasso", ao menos) e irônica, inclusive com as condições médicas, raciais e psicológicas dos personagens. Ninguém ali está muito bem da vida, mas suas vidas tampouco se esgotam nesses problemas. Faz sentido, não?

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