Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'The Last of Us' brilha ao ressuscitar zumbis para era pós-pandemia

Terror de série inspirada em game vem de medos muito reais e humanos

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Apocalipses zumbis povoam a fantasia humana há muito, com mais ou menos violência, com mais ou menos densidade, com mais ou menos verossimilhança. No caso de "The Last of Us", no ar pela HBO, sobressai este último.

A série surgiu do game homônimo de 2013, roteirizado por Neil Druckmann, e foi convertida para a TV por ele mesmo e por Craig Martin, cuja credencial sobre apocalipses vem de sua magistral minissérie "Chernobyl", exibida na mesma plataforma. Na versão em carne e osso, tem Pedro Pascal e Bella Ramsey, dois atores extremamente carismáticos, como os protagonistas, Joel e Ellie, aos quais cabe a jornada entre mortos-vivos para salvar a humanidade.

Sendo um mito no qual cabe todo tipo de ilação e metáfora (como já escreveu Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha morto em 2018), a história dos zumbis atravessa culturas e épocas, ressurgindo mais adiante com nova roupagem, mas sempre fiel ao nosso fascínio/temor pela possibilidade de termos nossa vida perpetuada como um arremedo do que fomos.

Natural, portanto, que enxerguemos nesta travessia de um pai que perdeu sua filha e de uma órfã tantos dos males e medos do nosso tempo. O fato de termos agora mesmo passado por uma pandemia que dizimou 6,8 milhões de pessoas ressignifica a história de dez anos atrás. Temos uma coleção de novas fobias, neuroses e uma relação mudada com o mundo, tal qual Joel, cujos traumas o tornaram um poço de niilismo.

A Ellie, nascida pouco antes da hecatombe, cabe o papel de messias relutante. Ela sabe, mas duvida, que representa a esperança de cura em um mundo formado de escombros, onde sobreviventes refugiam-se em quarentena permanente e zumbis vagam atrás de presas. Tem a autoconfiança e o ceticismo no mundo da geração millenial.

Para que essa salvação chegue a todos, Joel precisa garantir que a menina chegue ao oeste, à Califórnia, caminhando por uns Estados Unidos completamente devastados e alternando confrontos com os monstros e com a entidade fascista que gere as zonas de quarentena. O cenário, tal qual do jogo, é impressionante.

O argumento é simples, e por isso poderoso. Pascal é um sujeito que imprime uma empatia palpável a todos os seus personagens (e são tantos ultimamente), tornando fácil sentir sua angústia em cena.

A originalidade fica com o patógeno que transforma humanos em zumbis, um fungo (que existe) que consome seu hospedeiro ao ponto da idiotia mas o mantém vivo com um mínimo de cognição para poder continuar a lhe devorar a carne. Quem já testemunhou casos de criptococose, doença causada por fungo que se espalha por órgãos e chega ao cérebro, sabe que a ideia é aterradora. Tudo verossímil demais.

Com segunda temporada já contratada, a HBO optou por exibir os episódios a conta-gotas, como fazia com "Game of Thrones" (de onde, aliás, Pascal e Ramsay foram catapultados), mantendo o burburinho e alongando as expectativas. Para esta temática, a decisão parece perfeita.

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