Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Velma' lésbica e de ascendência indiana faz piada de heterotops

Sem Scooby, série da HBO Max mira clichês da cultura pop

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Foram necessários mais de 50 anos, mas Velma Dinkley saiu do armário. A detetive mais esperta e calada do quarteto investigador de mistérios de Scooby-Doo, que como quase tudo que passava na TV para crianças nas décadas de 1960 e 1970 foi criado por William Hanna e Joseph Barbera, ganhou série com seu nome, e humor adulto (não se deixe enganar pelo fato de ser uma animação).

Para isso, contudo, foi preciso tirar de cena o cachorrão falante que animou a infância do pessoal que passou dos 40 (caso da colunista). Segundo declarou o criador da série, Charlie Grandy, a publicações americanas, Scooby era infantil e doce demais para a versão ácida que estreou na HBO Max neste mês.

Cena de 'Velma', nova série da franquia 'Scooby-Doo'
Cena de 'Velma', nova série da franquia 'Scooby-Doo' - Divulgação

E não se trata do escancaramento da orientação sexual da personagem —embora isso tenha criado o buzz em torno da série—, mas do humor corrosivo que não poupa nada na cultura pop em geral, de séries policiais a filmes adolescentes de apelo erótico.

Personagens ganham histórias de fundo mais densas: duas mães policiais para Daphne, que é adotada, um pai machista e castrador para Fred, abandono materno e um pai que se casa com uma mulher mais jovem deslumbrada pela fama para Velma, o que rendeu a eles montes de cinismo e alguma perversidade.

Salsicha, que aqui ainda atende pelo nome próprio, Norville, parece intacto em sua construção, ainda que os roteiristas o apresentem como negro e não branco como no original.

A protagonista também mudou de etnia, e aqui é apresentada como indo-americana. Para dar conta dessa nova e desbocada personalidade, foi convocada Mindy Kaling, que também é produtora-executiva do projeto. Fãs de "The Office" vão se lembrar de sua voz como a intensamente apaixonada Kelly Kapoor, possivelmente a segunda melhor personagem da série.

É Kaling que dá alma a "Velma" (a série, não a personagem) com seu humor sarcástico, suas tiradas ágeis e suas observações mordazes e implacáveis com o cenário social e cultural ("pai, por que você está de gorrinho? Só atores velhos que querem que saibamos que eles vieram do teatro usam isso"). Ela também traz à personagem certa vulnerabilidade/insegurança humana, resultado de suas dúvidas a respeito de sexualidade, família e lugar no mundo. Com a dosagem certa de humor, é um combo infalível.

No mais, "Velma" segue o espírito de outras animações adultas de estética infantil mais longevas, como "Os Simpsons", "Futurama", "South Park" e "Family Guy", embora com um roteiro menos engenhoso que busca emular o espírito do original com um mistério a resolver. No caso, nossos protodetetives precisarão desmascarar um serial killer degarotas populares.

Elogiada pela crítica, a série recebeu notas baixíssimas dos espectadores no IMDB, o site mais completo sobre filmes e TV nas últimas duas décadas. Se os haters saíram do armário atrás de Velma ou se é gente com dificuldade de rir quando o alvo principal das piadas é um heterotop, branco e rico Fred não dá para saber.


Velma está disponível na HBO Max, com 10 episódios de 25 minutos

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