Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Atrasada no Brasil, 'Poker Face' junta crimes, humor, EUA profundos e Natasha Lyonne

Boa produção assinada por Rian Johnson traz Lyonne como detetive bagaceira

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Natasha Lyonne é uma dessas atrizes de tipo único, cuja presença na tela e a voz rouca enunciam a pegada da série.

Os mais velhos verão nela a encarnação da Rê Bordosa, a (finada) personagem de Angeli que vivia às voltas com ressacas físicas e morais variadas, óculos escuros e espírito niilista. Para os mais novos, trata-se de uma espécie quase extinta pelos tutoriais de skincare, culto à boa forma e busca pela saúde impecável.

Poker Face
Cena da série 'Poker Face', do Universal+ - Divulgação

Pois Lyonne evoca o melhor de seu charme bagaceira e seu humor mordaz em "Poker Face", série que demorou meses a estrear no Brasil, chegou com apenas 4 dos 10 episódios da primeira temporada e só agora teve a leva restante anunciada pela Universal+.

O atraso é incompreensível. Falamos de mais uma obra de Rian Johnson, o cineasta que reavivou para os anos 2020 o filão inaugurado por Agatha Christie cem anos antes e fez muito dinheiro com isso. É dele "Entre Facas e Segredos".

Embora não seja uma obraprima, o selo Lyonne+Johnson garante entretenimento esperto e apelo ao público.

"Poker Face" é um suspense "procedimental", tradução sem-vergonha para o nome que os americanos dão a produções cujo mote é a solução de um caso a cada episódio pelo protagonista, geralmente um policial, um detetive, um advogado, um médico ou, neste caso, um amador com tendência a bisbilhotar.

Em vez de descobrir o assassino, que se revela no início ou meio de cada caso, o espectador desvenda com a anti-heroína a motivação e a arquitetura do crime, o que traz algum frescor ao roteiro.

Isso e a protagonista: Charlie, personagem de Lyonne, é uma mulher com talento para detectar mentiras, o que naturalmente a leva para a mesa de jogo, o que naturalmente põe bandidos e vigaristas em seu encalço.

Depois de se ver na mira do dono de um cassino, ela se põe em fuga pelo miolo dos Estados Unidos, aquele que os políticos locais batizaram de "América Profunda", esbarrando em tipos pitorescos e crimes esdrúxulos. Charlie nem sempre sabe quem vai morrer ou por quê, mas descobre quem mata rapidamente.

Não tem genialidade aí, mas com o streamming saturado de tantas cópias inconfessas e maneirismos pode ser reconfortante ver fórmulas perenes executadas com ânimo e cuidado por gente que exerce bem seu ofício sem a ambição de revolucionar nada.

Nem por isso a dupla perde a chance de ironizar quase tudo na cultura americana, como na maravilhosa sequência em que Charlie descobre que o locutor de todos os programas ultraconservadores e rádio que ela despreza é um jovem negro sem compromisso político disposto a testar seu talento vocal e a credulidade dos ouvintes.

O fato de a dupla ter bons relacionamentos no showbiz e lotarem os episódios com participações especiais de alta estirpe arremata esse pacote, que inclui ainda trilha sonora e fotografia minuciosamente bem cuidadas. Há uma segunda temporada nos planos. Que ela não demore tanto a chegar por aqui.

Os quatro primeiros episódios de ‘Poker Face’ estão disponíveis na Universal+; os outros seis estreiam dia 15

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