Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Produção de streaming vive refluxo, mas há razão para comemorar

Após 599 séries originais em 2022, greve e fim da pandemia freiam alta; panorama, porém, é inédito

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Uma mulher e um homem de cerca de 30 anos e traços asiáticos, machucados e sujos, estão de costas um para o outro em um descampado, durante o dia, empunhando seus celulares como quem filma a si mesmo

Ali Wong e Steven Yeun em "Treta", da Netflix Andrew Cooper/Netflix

O ano que se encerra não foi lá muito especial para as séries. Houve boas produções, claro, algumas até memoráveis, mas raramente em temporadas de estreia. Quando isso ocorreu —sim, falamos de "The Last of Us" (HBO Max)— a história em questão era uma adaptação.

"Succession" (Fox) e "O Urso" (Star+), para citar duas das pérolas do ano, são continuações (a primeira, aliás, foi um fecho de ouro), e outros exemplos, como "Treta" (Netflix) e "A Vida Nova de Toby" (Star+), minisséries (ou antologias, como as plataformas preferem dizer hoje para possibilitar novos enredos sob um mesmo guarda-chuva temático).

A produção nacional, entretanto, serviu de contraponto a essa escassez de novidades estrangeiras.

"Cangaço Novo" (Amazon Prime Video), "Vale o Escrito", "Os Outros" (ambas Globoplay) e "Amar é para os Fortes" (também Prime Video) contemplaram os espectadores com uma dramaturgia vigorosa e atuações memoráveis. Num reflexo tristíssimo desses tempos, em todos os casos citados, e mais alguns outros, a temática das obras é a violência e a criminalidade. Com mais ou menos aridez, foi ela que norteou nossos roteiristas neste ano.

Essa convergência indica uma crise de criatividade, um excesso de produções, uma fadiga dramatúrgica?

Certamente há um excesso, e já é seguro dizer que ficou impossível acompanhar tantos títulos em tantas plataformas —e pagar por todas elas. O modelo que catalisa boa parte das produções também provocou greves históricas de atores e roteiristas, e por isso 2023 será lembrado. Contudo também é verdade que nunca se fez nem nunca se viu tantas séries, de tantos lugares, em tantas línguas.

John Landgraf, o executivo da FX que virou um espécie de profeta da indústria do streaming ao cunhar o termo "Peak TV" (TV do auge) em 2014, prevê um declínio de produções. Em 2022, pela sua agora popular contabilização, foram 599 obras inéditas exibidas nos Estados Unidos, mais do que em qualquer outro ano e um avanço de 7% sobre 2021.

O dado para este ano deve sair só em janeiro; no entanto, Landgraf esperava, há 12 meses, uma queda de até 30% da produção/exibição. Era uma aposta, ele frisou, com a qual a greve colabora (houve atraso obras aguardadas como a segunda temporada da genial "Ruptura", da Apple TV, e o desfecho de "O Conto da Aia", no Paramount).

A limitação física —nosso tempo é finito— também deve ser um freio, sobretudo em um ano em que as pessoas, finda a pandemia, ampliaram o que dedicam a outras atividades.

Isso posto, em que pese certa pasteurização e eventuais revertérios e decepções, temos acesso a um panorama inédito em termos de procedência, linguagem, diversidade temática (cortesia da falta de anunciantes, enquanto ela durar) e heterogeneidade de elenco. É algo a comemorar. E não é pouco.

A coluna agradece a leitura neste ano e retorna em fevereiro. Feliz 2024!

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