Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Todas Maratona violência

Com 'Amar É para os Fortes', Marcelo D2 dribla maniqueísmo ao falar de violência na favela

Série no Amazon Prime Video parte de tragédia mas não se conforma à dor

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Cena da primeira temporada da série Amar É para os Fortes Amazon Studios/Divulgação

De janeiro a setembro deste ano, oito crianças foram mortas pela polícia do Rio de Janeiro na região metropolitana da capital fluminense, e outras dez foram baleadas. Os casos provocam protesto, são investigados e eventualmente punidos. E voltam a acontecer de novo e de novo. Em sete anos, diferentes ONGs contabilizam mais de cem crianças mortas dessa forma no Rio.

É de um caso assim que parte "Amar É para os Fortes", série do Amazon Prime Video no ar desde novembro que traz a assinatura de Marcelo D2 no roteiro, ao lado de Antonia Pellegrino e Camila Agustini.

Mas em vez de se perder no maniqueísmo fácil no qual a filmografia sobre o tema frequentemente escorrega, os autores escolhem contar a tragédia do ponto de vista da mãe de quem morre e da mãe de quem mata, talvez porque venha de mulheres como Rita e Edna a força de mudança necessária para estancar "a guerra", como dizem os personagens de lá e de cá.

Por causa principalmente disso, o registro lembra muito o de "Olhos que Condenam", obra-prima da cineasta americana Ava DuVernay que, com sobriedade comovente, expõe as entranhas de um sistema de Justiça no qual o racismo é inerente (no caso, o americano).

A produção do Prime, porém, traz algo de otimismo hesitante. Inicialmente apresentada como determinista —o meio corrompe o homem inevitavelmente—, a história aos poucos subverte os clichês desse subgênero, ainda que restem alguns (é claro que há o policial vilão, embora este aqui seja norteado mais pela canalhice e pelo fatalismo, traços mais complexos do que o sadismo puro, mas há também o policial que sofre).

Muito da força da série está nas atuações das coprotagonistas, Tatiana Tibúrcio e Mariana Nunes. O elenco é todo afiado e bem afinado, mas Tibúrcio e Nunes conseguem tocar numa corda invisível do espectador, ao menos daquele que tem filhos por quem temer.

Há também uma preocupação notável dos autores de costurar o drama e a ação à vida corriqueira da favela da Maré, onde a série se desenrola, e colocar em primeiro plano a música, a dança e as artes visuais que se produzem ali. Isso é feito por meio da Crew, o coletivo de criadores do qual participa Paulo/Sinistro (Breno Ferreira), o filho mais velho de Rita.

Essa sensibilidade é traduzida na direção, a cargo de Kátia Lund (de "Cidade de Deus"), Yasmin Thayná e Daniel Lieff, os dois últimos também roteiristas, e na edição de Augustini, tudo norteado pela trilha sonora, como não poderia deixar de ser numa obra de D2.

Todos esses elementos são usados para construir uma realidade na qual a violência é rotineira, mas não definitiva. As cenas de esculacho se repetem ao longo de toda a série, assim como se repetem na vida de quem nasceu preto no Brasil e/ou na favela, e a raiva que elas fomentam também.

Mas há mais do que isso, há muito mais do que isso. A vida, afinal, sobrevém a morte.

Os sete episódios da primeira temporada de 'Amar É para os Fortes', de cerca de 30 minutos cada um, estão disponíveis no Amazon Prime.

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