Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Um Homem por Inteiro' peca no ritmo e na costura das histórias

Minissérie da Netflix baseada em livro de Tom Wolfe deixa de lado o que a faria mais interessante

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Imagine uma mistura de "Succession" com "Olhos que Condenam" em velocidade triplicada. É mais ou menos esse o resultado de "Um Homem por Inteiro", minissérie da Netflix que causou alvoroço por motivos pouco dramatúrgicos (uma ereção).

Baseado em livro do escritor e jornalista Tom Wolfe (1930-2018), um dos observadores mais argutos da sociedade americana, o roteiro foi adaptado por David E. Kelley, outra pena ferina. O resultado está longe de ruim, mas faltam peças para que tanta pedigree resulte em uma grande série.

O problema maior é que "Um Homem por Inteiro" se propõe a contar duas histórias paralelas em seis episódios de 45 minutos, e apressa ambas ao ponto da desconexão.

Sabe-se quase nada dos personagens centrais, de como chegaram à situação em que se encontram ou o que os motiva, e menos ainda do ambiente em que vivem —uma pena, pois Atlanta, a metrópole de edifícios espelhados onde a trama transcorre, tem longo histórico de tensões raciais e luta por direitos civis que a tornam uma das cidades mais interessantes dos Estados Unidos.

O protagonista é o megaempresário Charlie Croker (Jeff Daniels, com o carisma habitual), ex-astro do futebol americano universitário que prosperou como empreiteiro.

Ao completar 60 anos, ele se vê à beira da falência, devedor de um grande banco, e fragilizado por um joelho que já não funciona bem. Na sua órbita vive sua mulher bastante mais jovem, Serena (Saraj Jones), a ex-mulher, Martha (Diane Lane, subutilizada), o filho Wally (Evan Roe) e um séquito de funcionários.

É desse séquito que sai a segunda história, a de Conrad (Jon Michael Hill), um homem negro preso por agredir o policial que o aborda de forma violenta no trânsito. Ele é casado com Jill (Chanté Adams), secretária de Croker.

Defendido pelo advogado pessoal do empresário, Roger White (Aml Ameen), Conrad rejeita o acordo para cumprir 60 dias de prisão e escolhe aguardar pelo julgamento na cadeia. O juiz sente-se desafiado e o manda para a penitenciária de Fulton, uma das mais violentas dos EUA.

São histórias que exalam a crise social americana, algo recorrente na obra de Wolfe: o selfmade man que vê seu império ruir, o sujeito comum repentinamente tragado por um sistema jurídico e penal perverso racista, e toda a dinâmica de poder que envolve as duas.

Nenhuma delas, contudo, oferece mais do que pinceladas dos personagens, o que impede a empatia do público.

A reboque, corre a história de Raymond Peepgrass (Tom Pelphrey), um burocrata de banco cujo único propósito é aniquilar Crooker. Poderia ser um personagem interessante, mas é plano e raso.

"Um Homem por Inteiro" mira uma crítica irônica às convenções sociais guiadas pela hipermasculinidade, mas o ritmo apressado e o excesso de subtramas eliminam sutilezas e nuances.

O resultado é grosseiro. Não à toa é a cena de em que Pelphrey aparece nu com o pênis ereto —não enredo nem interpretações— que mais atraiu atenção à série.

Os seis episódios de "Um Homem por Inteiro" estão disponíveis na Netflix

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