É jornalista de cultura pop, editor do blog Popload, no UOL, colaborador da "Ilustrada", mas acha que no fim gosta mais de futebol do que de música.
Estilo Galo maluco
Na partida da semana passada, em que o Atlético-MG se credenciou à final mais importante de sua história, eu estava a milhas de distância do jogo, em uma mesa de bar com amigos.
Comendo pizza, tomando chope e curtindo "apenas um jogo de futebol na TV".
No final, estávamos todos descontrolados, quase em cima da mesa. Em São Paulo. Nenhum atleticano. Nenhum mineiro. E não só a gente.
Não vou cair no clichê "O Galo é o Brasil na Libertadores" porque, no caso, "O Galo é o Galo na Libertadores." O jeito que esse time joga e chegou onde chegou, com jogadores e técnico que tem, com sua história recente, nos credencia a simpatizar de graça por ele.
Porque é tudo muito maluco no time. E se tornou muito emocional. As rezas, os choros, os infartes quando ganha e quando está perdendo.
O técnico Cuca foi de o mais azarado ao mais sortudo. E, se é para falar de "fama", o "desmiolado" presidente do clube, o emotivo Alexandre Kalil, disse nesta Folha que não esperava de Cuca um técnico tão preparado para ganhar. Hein?
Cuca, talvez por conta dessas coisas do destino, vai a campo acompanhado de santinha e conversa com Deus. Pede tanto a ajuda divina que é como se os 11 adversários, o técnico rival e a torcida oponente não fossem lá "filhos de Deus" ou tivessem suas causas. Soube-se que ontem os atletas do Olimpia foram a uma igreja. Vai ser guerra santa.
O craque Ronaldinho, que muitos julgavam ex-craque, só não vai ser considerado o melhor jogador desta Libertadores se derem a láurea ao Victor, milagreiro e já comparado na mitologia atleticana a João Leite, o "goleiro de Deus".
O Victor que Kalil anunciou a chegada assim, em 2012, pelo Twitter: "Torcida mais chata do Brasil, se o problema era goleiro, não é mais. Victor é do Galo!"
O problema do Atlético eram vários, não só goleiro. Era de autoestima. E não só autoestima e goleiro. O atacante Jô estava em situação pior que a do Ronaldinho no descrédito. Hoje tem mais chances que o R10 de estar no grupo da Copa.
O clube gastou mais para trazer o Tardelli do que ganhou quando o vendeu em 2011, mas ok. O Guilherme, reserva que a torcida não curtia por ter feito fama no rival Cruzeiro, fez o gol da salvação do Atlético. Esse Galo é coisa de roteiro de filme de Hollywood.
A torcida é chata, mas já teve alas roqueiras e punks como Galo Metal, Iron Galo e Hey Ho Let's Galo e hoje é apoiada também pela GaloMarx, uma das primeiras organizadas socialistas do futebol e que mistura bola com as ideias de Karl Marx. Tem como símbolo a cabeça do pensador alemão com o corpo do ex-ídolo Reinaldo.
Torcida que se pudesse beijava a medalhinha santa de Cuca, por mais paradoxal que seja.
Porque está tudo maluco neste Galo. E tamo junto.
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