Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

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Luiz Felipe Pondé

Entre Bolsonaro e Lula na disputa eleitoral de 2022, petista é o menos ruim

Só ignorantes pensam que presidente é um conservador, como Trump tampouco é

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Num dado momento do filme “Alien vs. Predador”, de 2004, a narrativa tem que fazer uma escolha entre os dois vilões. E escolhe o Predador, que pelo menos tem forma mais próxima daquela humana e demonstra uma mínima capacidade de empatia.

Num cenário de horror eleitoral em 2022, Bolsonaro é o Alien e Lula é o Predador. Numa eventual disputa no segundo turno em 2022 entre Bolsonaro e Lula, a sensibilidade conservadora indica que o Lula seria a opção menos ruim. Muitos subirão pelas paredes. Se isso acontecer com você é porque você é simplesmente ignorante acerca do assunto.

quatro garras de monstro reproduzidas em quatro camadas de cores (preto, amarelo, vermelho e azul), como desenhos para ver com óculos 3D
Ricardo Cammarota/Folhapress

Antes de tudo, deixemos claro que especulamos aqui sobre um cenário de horror eleitoral. A melhor opção seria o impeachment de Bolsonaro já. Se tivéssemos alguma opção viável melhor do que o cenário “Alien vs. Predador”, a conversa seria outra. Os dois são péssimos.

A tradição conservadora britânica, representada por nomes como Edmund Burke, no século 18, Michael Oakeshott e Russel Kirk, no século 20, e Thomas Sowell e John Kekes, vivos, entre outros, exige de quem queira se aproximar da disciplina, maturidade e muita leitura.

A descrição da sensibilidade conservadora, ou disposição, ou espírito, ou ainda atitude, vem a seguir.

Um conservador é um cético, ao contrário do que pensa a ignorância que reina no debate nacional. Outra coisa: um conservador sempre avalia contextos específicos, eleições específicas, por isso muitos afirmam que não há ideologia conservadora propriamente dita.

A intenção é sempre o menor trauma possível analisado a partir dos dados mais empíricos possíveis. Política é trauma ou acomodação ao possível.

Mudanças só no varejo, nunca no atacado. Mudanças a partir de problemas concretos, nunca a partir de uma “visão de mundo” abstrata.

Um líder, quanto menos “visão de mundo” tiver, melhor. Governar é gerir um certo número de ferramentas para resolver um certo número de problemas, disse Oakeshott. A tradição conservadora é uma política da imperfeição, afirmou Kekes: nunca há utopias, nem líderes maravilhosos. O pessimismo antropológico dessa tradição recomenda, como diz o sábio, “menos, menos”.

A palavra “conservador” remete à ideia de que devemos levar a sério hábitos, costumes, tradições —religião é um caso entre tantos— e instituições que trouxeram o mundo até aqui, mesmo que ele seja imperfeito.

Jamais um conservador será um racionalista universalista. Sua vocação é um ceticismo político e um relativismo moral associados à ideia de que grande parte da nossa sobrevivência é difícil de se entender por qualquer forma de geometria ou engenharia social.

Por que Lula? Os governos Lula foram melhores até agora do que o de Bolsonaro está sendo. Provavelmente, ele teria gerido melhor a peste.

Claro, ambos são figuras duvidosas do ponto de vista ético, mas escolhas políticas são escolhas que vão além do que gostaríamos que o mundo fosse, como afirma Maquiavel.

Lula faz acordos melhor do que Bolsonaro. Tem uma tendência apaziguadora e é muito mais inteligente. Provavelmente aprendeu um tanto nesses anos e pode querer imitar Mandela: nada de vinganças. Bolsonaro é um zumbi. A praga petista foi seguida pelo apocalipse zumbi dos bolsonaristas comedores de cérebro. Patinamos até hoje.

Eu disse nesta coluna que Joe Biden, nas eleições para a presidência dos Estados Unidos, era a melhor opção para céticos conservadores. Digo agora que num cenário entre Bolsonaro e Lula em 2022,
Lula é o menos ruim.

Outra coisa que seria bom ficar claro é que direita versus esquerda é uma oposição pobre para análise política.

Lula é de esquerda, mas Bolsonaro é que está tentando transformar o Exército em sua milícia, corrompendo a moral da tropa, dividindo as Forças Armadas, como Hugo Chávez fez na Venezuela.

O que busca essa atitude conservadora? Busca competência, menos violência, liberdade dentro da lei e consenso no dia a dia. Defesa das instituições e não de pessoas. Só ignorantes pensam que Bolsonaro é um conservador, como Trump tampouco é.

A nossa história recente aponta para Lula como o candidato conservador em 2022. O STF já sabe disso. As Forças Armadas também. Eu sei: a vida não é para iniciantes.

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