Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

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Apoiadores de Bolsonaro deram resposta pelo voto, não pelo golpe

Clandestino, o bolsonarismo se esconde nos esgotos, mas sabe muito bem manipular as estratégias de guerrilha

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O que podemos aprender passado o primeiro turno das eleições? De forma imediata, que as pesquisas não capturam o voto bolsonarista. Não erram tudo, mas de modo específico.

E não capturam porque, apesar de a esquerda fazer discurso de resistência, os bolsonaristas é que estão na clandestinidade. Votam em segredo em quem querem e viram as costas para falas de risco de golpe.

Há muito a esquerda perdeu a noção da realidade, tornando-se uma igreja dos belos e dos bons. Quando uma ideologia fala abertamente que os "homens brancos não prestam" e que o Brasil estaria melhor se fosse só feito de negros e mulheres, ela está indo para guerra fingindo-se de santa.

Bolsonarismo na clandestinidade  A ilustração figurativa de Ricardo Cammarota foi executada em técnica manual com tinta nanquim e pincel, acabamento em lápis carvão e, posteriormente, colonizada no photoshop. Cores: Preto, vinho, beje e verde escuro.  Trata-se de uma ilustração no formato horizontal, de composição livre, composta pelos elementos descritos, da esquerda para à direita: Uma escada que desce para um porão, abaixo, o corpo de um rato, um segundo pequeno rato preto subindo outra escada menor, um bueiro acima, outra parte de um grande rato de costas, aparecendo mais o seu rabo grande cheio de pelos, uma galeria escura de esgoto ao fundo e partes dos corpos de outros dois ratos saindo de cena à direita imagem. O clima da ilustração é sombrio.
Ricardo Cammarota

A agressividade bolsonarista é explícita, seu voto é invisível e silencioso. A agressividade petista é invisível, seu voto é confesso e orgulhoso.

Como toda clandestinidade, o bolsonarismo se esconde nos esgotos, mas sabe muito bem manipular as estratégias de guerrilha quando você não detém o lugar de fala. Sei que os inteligentinhos não entenderão o que eu acabei de dizer, mas eles nunca entendem nada mesmo, paciência.

Sim, a esquerda hoje tem todos os vícios de uma aristocracia burra. Ocupa praticamente todos os espaços da inteligência pública e não consegue ter um milímetro de inteligência para entender como grande parte da população se sente diante da desconstrução moral contemporânea.

Sigmund Freud (1856-1939) já havia dito que deveríamos levar a sério assuntos sobre o que temos no meio das pernas.

A burrice da aristocracia intelectual pública, que não é só brasileira, se manifesta numa autoapreciação estética peculiar —ela se considera sublime nas suas intenções.

A histeria ao redor dessas eleições como um plebiscito a favor ou contra a democracia é uma prova cabal da inapetência da aristocracia intelectual pública. A apreensão popular da democracia é sua natureza procedimental: ganha quem levar a competição por votos —as eleições— e, nesse sentido, vale tudo para vencê-la. Todos mentem. A esquerda mente com garfo e faca, a direita mente falando de boca cheia.

O PT nunca foi um partido democrático. Sua violência é implícita. Coloniza instituições da República, persegue seus desafetos no espaço público, cala a oposição com elegância, tudo isso sob as palmas da inteligência pública enviesada.

A estridência ideológica da esquerda pode custar caro para ela diante do espírito disciplinado do protestantismo popular nacional. A elite é sempre cega, porque não suporta o cheiro de ônibus e trem.

Uma das armas dos bolsonaristas é o silêncio e o desprezo pela inteligência pública. E quem é ela? Intelectuais e jornalistas que se prestam ao ridículo de ficar há meses falando para si mesmos, gemendo que haveria golpe e uma violência terrível no dia das eleições.

Os bolsonaristas usaram a competição por votos para se manifestar. E agora os petistas estão fazendo xixi nas calças. E, com os resultados do primeiro turno, vem a vergonha dos intelectuais e jornalistas que choram no ombro do Lula. "O que será de nós?" É humilhante ver essa choradeira.

Diria para os chorões que não conseguem dormir, que estão xingando o país, que se sentem em meio de uma guerra mortal contra o mal, que comprem um pacote "war experience", ou experiência de guerra, e vão passar umas semanas no Afeganistão ou no Sudão para ter uma real noção do que é viver entrincheirado num pesadelo contínuo.

A mídia profissional precisa abandonar a preferência ideológica se ainda quiser ser relevante. É triste ver as ginásticas que jornalistas, comentaristas e afins fazem para fingir imparcialidade —alguns nem mais fingem, escondidos atrás da manta ridícula da "ameaça golpista", e berram aos quatro cantos do Brasil os seus horrores a quem cheira a "sangue de Jesus tem poder".

Pontualmente, vale dizer que ninguém iria mesmo dar bola para os mortos da pandemia —Bolsonaro demonstrou zero empatia com a agonia das pessoas. Apesar do mimimi, ninguém lembra desgraças passadas. A CPI da pandemia foi parte do circo institucional que é a vida política nacional.

A resposta bolsonarista veio pelo voto, não pelo golpe. Uma vergonha, não?

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