Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

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Luiz Felipe Pondé
Descrição de chapéu tecnologia

Odeio o capitalismo, mas não passei a idolatrar o PT, PSOL ou PCO

Dito isso, devo reconhecer que ainda acho a atitude liberal a menos ruim entre todas as péssimas à disposição

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Odeio o capitalismo. Estranho me ouvir dizer que odeio o capitalismo? Nem tanto. Mas não passei a idolatrar o PT, PSOL ou PCO.

O primeiro é uma gangue organizada que sequestrou o país. O segundo é uma agremiação teenager que só quer um capitalismo pra chamar de seu no nicho de diversidades nas empresas. O terceiro confunde o Hamas com seus ídolos bolcheviques. O negócio do Hamas e dos bolcheviques sempre foi matar, do PCO é bagunçar o metrô.

Título: Por que odeio o capitalismo. A ilustração figurativa de Ricardo Cammarota foi executada em técnica manual com lápis grafite sobre papel e, posteriormente, foi escaneada e colonizada digitalmente.  Na horizontal, proporção 17,5cm x 9,5cm, a ilustração, em estilo figurativo com traços estilizados - tipo esboço, marcados à lápis, apresenta, à esquerda, uma sala de controle digital com telas, computadores, diversos botões, alavanca e câmeras. À direita, ao fundo, uma grande tela redonda onde está projetada uma cena baseada na pintura de Philipp Foltz, sec XIX, representando um discurso do um estadista grego Péricles, com construções de colunas gregas atrás. À esquerda, acima da mesa de controle, há uma fileira de mísseis dispostos lado a lado.
Ricardo Cammarota - Ricardo Cammarota

Dito isso, devo reconhecer que ainda acho a atitude liberal a menos ruim entre todas as péssimas à disposição. Entretanto, não partilho da mística do mercado que alguns liberais cultuam. O mercado é um quase mal necessário. Não conhecemos outra forma de fazer a roda girar e produzir bens.

Minha questão é que suporto o capitalismo apenas em pequenas doses. Quando se torna uma "ciência" me dá bode, com todo seu vocabulário pseudoconceitual. Aliás, esse papo de alguns sacerdotes das inovações na gestão de pessoas me lembra o filósofo Émil Cioran, do século 20, quando dizia que a administração transformada em pensamento era uma espécie de metafísica para chimpanzés.

Capitalismo em pequenas doses é aquilo que todos nós precisamos para sobreviver. Comprar coisas, vender coisas ou serviços, pagar boletos, escola de filhos, alguns restaurantes, para quem pode, aplicar algum dinheiro, cuidar para que você não envelheça na mão desse Estado canalha que nos cerca e do mercado da saúde que nos devora. E um relacionamento mínimo com bancos —diria alguém da moda, "banking mínimo".

Sei. Você dirá que capitalismo em pequenas doses hoje é uma utopia. Tendo a concordar com você. O próprio crescimento do mundo moderno implica o esmagamento de quem tentar manter alguma sanidade mental em meio a esse circo de mentiras que as relações humanas se transformaram. Mas tento evitar usar palavras —que alguns vendem como conceitos históricos— do tipo "inovação", "parceria", "projeto", "engajamento", a fim de manter uma mínima sanidade.

Quando todo mundo está vendendo tudo ao mesmo tempo —inclusive seu irrelevante estilo de vida como "branding pessoal"— tudo que se pode fazer é sair do recinto. Ainda é possível encontrar pessoas com desconfiômetro suficiente para perceber o quão ridículo é alguém que de fato acredita que "inovação" seja um conceito que fala de uma época e não apenas uma palavra que descreve uma invenção qualquer ou um curso qualquer sobre essa invenção qualquer.

Tecnologia é por definição efêmera de um ponto de vista histórico. Basta observar que num filme em que o cenário contém elementos do que se chama "ficção científica", a primeira coisa que caduca é a parafernália tecnológica.

O que fica, se o filme tiver algo que vá além da masturbação tecnológica, é o que há de "metafísica" nele, ou seja, questões que ultrapassam e permanecem indiferentes às "inovações" e sobre as quais estas nada têm a acrescentar de relevante.

Nunca demonstre muito tesão por inovações porque ou você parecerá ingênuo, ou um vendedor de quinquilharias que logo passarão. Mesmo a IA passará assim que nos acostumarmos a ela como ao Waze ou a Alexa.

Capitalismo em grandes doses gera quadros clínicos psicopatológicos, ainda que hoje gourmetizados.

Para mim, na literatura clássica, o arquétipo do indivíduo que enlouqueceu devido ao capitalismo colonial em grandes doses, no Congo Belga no século 19, é o personagem Kurtz do livro "No Coração das Trevas", de Joseph Conrad.

Claro que o contexto do século 19 colonial africano da exploração de marfim não é o do capitalismo colorido das plataformas em que vivemos hoje nem de um mundo em que o marketing narra a vida fazendo dela estúpida.

Kurtz entendeu que o que se passava ali era a violência pura e simples e a levou ao paroxismo, enlouquecendo por isso mesmo. Hoje, a violência se junta a grande mentira da época em que vivemos. O Kurtz de hoje não sabe mais quando está mentindo.

A empresa de Kurtz no século 21 continuaria a matar elefantes para extrair o marfim, mas investiria em ESG e postaria no Instagram #amamososelefantes.

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