Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Banqueiros fazem campanha discreta para fortalecer Haddad

Em público ou entre pares, gente da banca quer menos ruído e mais apoio a plano fiscal

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Banqueiros maiores querem colocar panos frios na chapa de Fernando Haddad, que anda esquentando neste ano. Acham que Luiz Inácio Lula da Silva espalha brasas, é verdade. Mas, em geral, não gostam de tumulto, ainda que seus tesoureiros possam ganhar algum dinheiro com isso no curto prazo (para os demais prazos, não vale a pena). Dão a entender que o investimento mais prudente de relações públicas é dar uma força ao ministro da Fazenda.

É o que têm feito tanto em conversas entre pares como em manifestações públicas, muito institucionais e que parecem mera diplomacia. É o que fez nesta quarta-feira, mais uma vez, Isaac Sidney, presidente da Febraban, na terceira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o "Conselhão" do Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Gabriela Biló - 26.jun.2024/Folhapress

Sidney disse que há "ruídos de uma eventual fragilidade fiscal", mas "estamos distantes do descontrole"; que o ministro da Fazenda tem compromisso com o arcabouço fiscal, seja por meio de aumento de receitas, seja na tentativa de controlas despesas. Sidney falou de modo ameno até de alta de imposto, pois.

No dia 14 de junho, Haddad tivera reunião fechada com banqueiros maiores e Febraban. Houve uma espécie de acordo para que não vazasse nem um fio de cabelo da conversa.

Ao final da reunião, Sidney falou em nome do grupo: "aqui estivemos também para reafirmar um apoio institucional ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, porque nós enxergamos nele todo o engajamento, uma determinação e uma firmeza na busca do equilíbrio fiscal".

Uma semana antes, algum fofoqueiro vulgar, ou mais de um, vazou trechos truncados de uma conversa fechada de Haddad com gente da praça financeira, de "o mercado". Foi aquele paniquito.

No dia 22 de maio, o ministro fizera aquele discurso dos "fantasminhas" na Câmara dos Deputados, quando sugeriu haver uma conspiração de endinheirados contra o governo e ele mesmo.

O caldo azedado entornava. O vento da finança nos EUA virara. O controle do déficit está mesmo sob risco ainda maior, as metas fiscais para 2025 e anos seguintes foram alteradas, o Banco Central derrapou na curva e há uma revolta de empresários contra impostos, entre outros problemas.

Ao fundo e alto, ouvem-se arengas e jeremiadas de Lula contra o "ajuste" e o BC. Apoiar Haddad é também um modo de passar um pano nesse caldo entornado.

Antes que alguém tenha a ideia maluca de que se esteja dizendo que o ministro é "homem da banca", ou tolice assim: se afirma aqui que há intersecção parcial de interesses, de Haddad e de quem quer que procure um pouco de calma —estabilidade já é exagero.

Sim, quem tem ou administra dinheiro grande, nem de longe apenas bancos, todos credores do governo, procura lidar com o risco de altas adicionais de juros de prazo mais longo (além de um ano) e do dólar.

Não raro, "o mercado" reage de modo exagerado a ruídos, de modo ainda mais intenso em ambientes instáveis. Vide o dólar zanzando em R$ 5,50. Em 12 de março, a taxa de juros para um ano estava em 9,75%, na praça (DI x pré). Desde 7 de junho, ronda os 11%, além mesmo da Selic.

Com um pouco de razão, conhecimento, jeito e sorte de quem está no poder, esses exageros podem passar. Mas há problemas. Em alguns casos, mesmo o que poderia ser reação exorbitante passageira, resfriado ruim, vira pneumonia.

O ambiente está instável. Ainda não há clareza sobre o que o governo fará em julho, na revisão bimestral de receitas e despesas, no Orçamento de 2025 ou até o fim do governo. Haverá eleição dramática nos EUA em novembro; até a eleição francesa de domingo pode balançar o coreto europeu e, por tabela, mundial.

O governo poderia ajudar, parando de servir ruído com incerteza, o que é muito indigesto.

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