Carioca, jornalista, foi repórter e coordenador de produção da Sucursal do Rio. É autor de livros sobre música popular brasileira. Escreve às segundas e às sextas.
Só dói quando eu rio
RIO DE JANEIRO - Os mortos do "Charlie Hebdo" nunca renunciaram ao riso e ao pensamento. Os estilhaços abaixo ousam ressaltar isso.
"Fiquem tranquilos: nenhum humorista atira para matar." (Millôr Fernandes)
Fantasia: A polícia descobriu que os assassinos fugiram da cena do crime rumo à casa da família Le Pen. Todos riram muito e fizeram planos. Querem reviver e aperfeiçoar a parceria Bush-Bin Laden.
O massacre comprovou o que nós, jornalistas, sabemos bem: não há limite para surgirem ideias terríveis durante uma reunião de pauta.
"Ainda bem que não existe terrorismo no Brasil." É o que sempre celebramos. Tem escravidão, racismo, esquadrão da morte, tortura, ditadura, Carandiru, Vigário Geral... Mas extremismos nós não toleramos.
Famoso cartum de Jaguar: Jesus Cristo na cruz fala para a luxuriante Maria Madalena: "Hoje não, Madalena, estou pregado". Doeu?
Um alemão diz para um judeu cujos avós foram vítimas do Holocausto: "Meu avô também morreu num campo de concentração. Caiu da guarita". Doeu?
Mussum está saindo do zoológico quando ouve alguém gritando seu nome. É o gorila: "Mussum, me dá o telefone do seu advogado". Doeu?
"Uma sociedade livre é justamente aquela que suporta o excesso." (Daniel Cohn-Bendit, ontem, nesta Folha)
Fantasia: Muçulmanos matam humoristas inteligentes e jornalistas de esquerda, o que aumenta o ódio contra muçulmanos. Radiantes, os comentaristas de internet investem-se de inédita coragem e vão às ruas pedir o fim das injustiças –e dos pobres, dos pretos, dos índios, dos trombadinhas, dos artistas, das mulheres culpadas pelos próprios estupros, dos diferentes. Reconhecem o colunista e o lincham com placas de "Carandiru foi pouco" e "Ironia nunca mais". Je suis Charlie.
Livraria da Folha
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