Carioca, jornalista, foi repórter e coordenador de produção da Sucursal do Rio. É autor de livros sobre música popular brasileira. Escreve às segundas e às sextas.
A vitória do poder podre
RIO DE JANEIRO - Fala-se em "sarneyzação" de Dilma Rousseff por causa de sua forte queda de popularidade. Mas a feia palavra funciona também em outro sentido: o PMDB recuperou um poder que não possuía desde os tempos de Sarney presidente. De fiador permanente da tal governabilidade, voltou a ser o síndico do condomínio de aliados.
Entre 1985 e 1989, Sarney era refém das decisões do PMDB do Congresso, o de Ulysses Guimarães. No segundo governo Dilma, a situação é similar: quem dá as ordens é o peemedebista que preside a Câmara, Eduardo Cunha.
Passados 30 anos, Ulysses Guimarães virou Eduardo Cunha. E ainda dizem que o ser humano evolui com o tempo...
A mudança de perfil do protagonista espelha a derrocada da política brasileira. Nossa democracia se firmou em vários aspectos (eleições confiáveis, Ministério Público e Supremo deixando de ser apêndices do Executivo etc.), mas não criou um modelo relativamente higiênico de coalizões partidárias.
Como o PMDB é um amontoado de senhores feudais que levam a Brasília as ideias (sic) e práticas que os tornaram fortes em suas glebas, o comando foi saindo das mãos de raposas que pensavam o país (Ulysses, Tancredo Neves, Pedro Simon e mesmo os paulistas que se tornaram tucanos) e caindo nas de abutres que o devoram. Quanto mais fraco um governo, mais fortes os chantagistas.
É patético, mas sintomático, que os dois homens mais poderosos da República hoje (Cunha e Renan Calheiros) estejam numa lista de investigados por corrupção. A República, que há 30 anos foi nova, agora apodrece.
Também é irônico e revelador que legítimos protestos contra a corrupção fortaleçam, logo quem, Cunha e Renan. Com apoio involuntário das ruas, os especialistas estão derrotando os intermediários.
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