Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Corrupção, o nosso esporte nacional

Toffoli anula provas de desvios, enquanto sociedade se divide em torcidas a favor de políticos ou magistrados

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No Brasil, a corrupção é como o futebol: não inventamos, mas aperfeiçoamos, adicionamos gingado e atingimos excelência ao ponto dessa atividade virar patrimônio nacional reconhecido mundialmente. O mau trato da coisa pública, assim como a burrice na canção de Tom Zé, "não tem preconceito nem ideologia, anda na esquerda, anda na direita, não escolhe causa e nada rejeita".

A corrupção grassa em todas as esferas de poder e se espraia por legendas partidárias. No entanto deve-se admitir que, nas passagens do PT pelo Planalto, foi bastante organizada.

Tínhamos planilhas com valores, codinomes e até um "departamento da propina" numa das maiores empreiteiras do país. Uma seleção da Copa de 70 em matéria de desvios, trocas de favores e outras maracutaias nada republicanas.

O ministro Dias Toffoli no plenário do Supremo Tribunal Federal - Credito Rosinei Coutinho - 19.dez.22/STF

Mas, agora, todo esse acervo foi considerado imprestável pelo ministro Dias Toffoli, do STF. Na última semana, o magistrado tornou inadmissíveis as provas oriundas de acordos de leniência da Odebrecht.
Assim, numa canetada, lá se vão os registros dos feitos de "Aracaju", "Gordo", "Jacaré", "Louro", "Maçaranduba", "Pescador", "Soneca" e outros craques desse escrete canarinho.

Em matéria de corrupção, por aqui, até a torcida é organizada. No caso em tela, temos a que, na defesa irascível de políticos, é contra a Lava Jato e, do outro lado, os fãs entusiasmados da operação.

A decisão de Toffoli foi saudada pela esquerda, mesmo que as delações também se refiram a partidos de direita ou centro-direita, como DEM, PP, PSDB e outros. Já os lavajatistas ignoram indícios de conluio inadmissível entre procuradores e o então juiz Sergio Moro.

Ambos caem no erro de levar a sério a metáfora futebolística, ao idolatrarem ou políticos ou juízes, aprofundando ainda mais a polarização em uma sociedade já dividida. Deixemos as paixões para o esporte e tratemos a política e a Justiça com sensatez. Porque até agora, nessa partida, vencem os corruptos e perde a sociedade brasileira.

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