Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu

Atos contra Klara Castanho e criança de SC põem à prova o feminismo

Em um momento violento como o atual, praticar a sororidade também é se recusar a justificar o injustificável

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São tempos difíceis para as feministas. Nossa sororidade está sendo posta à prova. Só no mês de junho, testemunhamos mais de um caso em que uma mulher usou seu espaço de poder —conquistado pelo feminismo que tanto despreza— para massacrar outra mulher no momento em que ela mais precisava de apoio e proteção.

O conceito de sororidade é um dos alicerces do feminismo. É o exercício constante de não julgar outra mulher, de se colocar no lugar dela, de nunca se esquecer que todas nós estamos inseridas no mesmo sistema patriarcal que nos oprime e violenta. É o sentimento de irmandade, empatia e afeto que faz com que sejamos mais unidas e mais fortes.

Desenho de duas mãos femininas com gesto de irmandade
Ilustração publicada em 27 de junho - Silvis

Pois é esse sentimento que vai para o quinto dos infernos quando nos deparamos com as atitudes da juíza Joana Ribeiro, que tentou impedir uma menina de 11 anos, vítima de estupro, a realizar um aborto permitido por lei; ou da apresentadora Antônia Fontenelle, que expôs uma jovem de 21 anos, também vítima de estupro, acusando-a de ter cometido um crime por ter entregado o bebê para adoção.

Ambos os episódios, separados por alguns dias, escancaram a crueldade com a qual vítimas de violência sexual que engravidam podem ser tratadas, não importa qual seja a sua escolha, a sua classe social, a sua idade. E atingem a todas as mulheres, causando imensa comoção —e revolta.

Acompanhei, pelas redes sociais, a maioria das mulheres que conheço manifestando apoio às vítimas. Isso é o que podemos chamar de sororidade, ou apenas de bom senso. Por outro lado, conversando com amigas em particular, percebi como os atos da juíza e da apresentadora também pareciam ter despertado o que havia de pior em nós.

A maioria de nossos desabafos impublicáveis seguia a mesma estrutura: "Se eu vejo essa (INSIRA UMA OFENSA AQUI) na minha frente, eu juro que (INSIRA UMA AÇÃO QUE FARIA VOCÊ PERDER O STATUS DE RÉU PRIMÁRIO AQUI)".

No auge da indignação, o bom senso mandou lembranças. Eu já estava me despedindo da nossa sororidade, quando uma amiga me lembrou que sororidade é pra quem tem. E ter sororidade, em um momento como esse, também é se recusar a justificar o injustificável.

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