Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
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Decifra-me ou te cancelo

O que querem as mulheres? A pergunta pueril ainda parece assombrar a rapaziada

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Diante de uma poderosa figura feminina, um homem precisa responder a um enigma ou será devorado. Poderíamos estar falando do mito da Esfinge, mas também do homem contemporâneo, desafiado por uma criatura popularmente conhecida como "mulher empoderada".

"Um mito é uma história que nunca aconteceu, mas que está sempre acontecendo." Partindo dessa máxima, talvez seja possível entender o que se passa na cabeça desta mulher e dos homens que temem ser engolidos por ela.

A Esfinge tem corpo de leão, um símbolo ancestral de força e poder. O leão é o rei da selva, ocupa o topo da cadeia alimentar. Nos mitos gregos, ela também ostenta asas de águia. A águia era o animal que representava Zeus, o mais poderoso dos deuses. Com visão privilegiada, a águia reina acima de tudo e de todos, deixando suas presas em uma posição vulnerável.

As civilizações antigas cultuavam esses predadores como símbolos da soberania masculina, em uma época de consolidação do patriarcado. Não é por ser metade mulher, metade bicho, que a Esfinge era considerada uma aberração, e sim pela posição que ocupava: uma posição de poder.

Desenho de uma estátua de esfinge
Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 12 de março de 2024 - Silvis/Folhapress

Afinal, o que querem as mulheres? Uma pergunta pueril que ainda parece assombrar a rapaziada. Um passeio pelo submundo que chamamos de sessão de comentários, logo abaixo de qualquer artigo feminista, é suficiente para ilustrar a fobia de uma parcela de homens que insiste em rotular essas mulheres como uma anomalia.

A pergunta da Esfinge, no mito, era: "Qual animal tem quatro patas pela manhã, duas pela tarde e três patas à noite?". Foi Édipo quem resolveu a charada. É o homem, que engatinha na infância, anda quando adulto e usa bengala na velhice. É simbólico que "o homem" seja a resposta do problema apresentado pela Esfinge. Quem conhece o mito de Édipo sabe que, grosso modo, trata-se de uma jornada de autoconhecimento.

Alguns milhares de anos se passaram e o homem contemporâneo com pensamentos antiquados ainda patina para decifrar o enigma. Não é sobre o que as mulheres querem. É sobre o que ele quer das mulheres. Frustradas tais expectativas, sua resposta imediata é julgar para não ser julgado, porque nada pode ser mais desafiador do que refletir sobre si mesmo.

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