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Usados têm salto de comercialização na quarentena

Plataforma OLX aponta mudança nos hábitos de consumo, com procura de cadeiras de escritório, equipamentos de ginástica e itens para casa

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Enquanto o comércio em geral se ressente da queda de vendas durante a crise da Covid-19, o comércio de usados está em alta, o que pode apontar uma mudança positiva de comportamento de consumo em direção a uma vida mais sustentável.

A reutilização é um alento para a saúde do planeta, por aumentar a vida útil dos produtos e evitar que sejam fabricados novos, com toda a conta de extração de matérias primas, uso da força de trabalho, energia e custos de embalagem, armazenagem e distribuição em grandes distâncias.

Empresa OLX, que registra mudança de hábitos de consumo no país - Divulgação

Além disso, quem compra usado on-line geralmente compra de quem está vendendo mais perto, o que poupa transporte, economizando emissões de gases do efeito estufa.

Outro aspecto a levar em conta é que as compras de novos on-line em geral resulta num excesso de embalagens colossal, o que não se reproduz no comércio de usados.

Na economia de novos, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima queda de vendas do Dia dos Namorados será de 43%. Na plataforma de usados OLX, durante o mês de maio, o número de buscas por anúncios contendo o termo "dia dos namorados" subiu 248%, comparado ao mesmo mês em 2019.

Empresa OLX, que registra mudança de hábitos de consumo no país - Divulgação

Também para o Dia das mães, a OLX registrou alta nas vendas de eletrodomésticos (183%) e eletrônicos e celulares de (166%), em relação ao mesmo período de 2019. No comércio de novos, houve queda de 60% nas vendas nessa data em relação a 2019, segundo a CNC.

Cerca de 3,5 milhões de pessoas anunciam todos os meses na plataforma, segundo a empresa. E a cada mês, mais de 600 mil usuários anunciam pela primeira vez por ali. Quinhentos mil itens são anunciados diariamente e o tráfego proporciona 50 vendas por minuto, o que dá dois milhões de vendas por mês.

Durante o período de redução de mobilidade, as categorias que tiveram maior aumento na demanda foram eletrônicos e celulares, com aumento de 107%, videogames, com aumento de 136%, utilidades domésticas com aumento de 135%, e esportes e lazer, com 106%.

As vendas que mais aumentaram foram esportes e lazer, com 93%, artigos infantis, com 90%, e eletrônicos e celulares com 74%.

A pesquisa considerou a terceira semana de maio em comparação com a média das duas primeiras semanas de março, período anterior à restrição de mobilidade.

A necessidade de trabalho remoto também teve reflexo na comercialização. A plataforma registrou um aumento de buscas por cadeiras (417% nas buscas), mouse (crescimento de 266%), teclados (alta de 208%).

Mais tempo em casa também fez aumentar a circulação de objetos de decoração. Mais que dobraram as buscas por papéis de parede, tapetes, almofadas e luminárias.

O comércio de roupas também se aqueceu. As buscas aumentaram 50% e as vendas; 67%, se comparar a terceira semana de maio com o período pré-Covid 19 (média das duas primeiras semanas de março). Os cinco itens mais procurados foram tênis, camisas e camisetas, calças, máscaras, jaquetas.

Para Andries Oudshoorn, CEO da OLX Brasil, o aumento das comercializações se deve em parte à necessidade de economizar e gerar caixa, dispensando o que não é mais necessário em casa, e também às mudanças geradas pelo confinamento.

Uma delas é justamente o trabalho remoto, que faz crescer a busca por itens de escritório. A outra é que, ficando mais tempo em casa, as pessoas organizam o que pode ser vendido e passam para frente e têm vontade de redecorar os ambientes.

“Eu mesmo comprei equipamento de ginástica, porque a academia está fechada”, conta Andries.

Ele também considera que o período de confinamento está acelerando uma mudança da cultura do consumo no país.

“Quando começamos no Brasil, em 2010, havia um mercado estabelecido de carros usados, mas a ideia de compra de usados para casa, para crianças e roupas tinha uma aversão muito grande. Agora o mercado está ficando mais parecido com o europeu e o norte-americano. As pessoas estão entendendo que os produtos com pouco uso e boa qualidade podem ter valor e podem ser usados por outros”.

Andries também atribui o aquecimento maior na época do confinamento ao aumento generalizado de uso da internet no país e que esse uso deverá permanecer quando acabar a pandemia.

“Há dez anos, quando chegamos, a porcentagem de usuários de internet que havia feito uma venda na internet era de 10%. Hoje, são 50%”, diz.

“Em momentos de crise, as pessoas são forçadas a repensar seus hábitos e a mudar. A gente viu um movimento semelhante durante a grande recessão de cinco anos atrás e o que foi ampliado ficou. Comprar usados também faz sentido nos momentos em que está tudo bem, porque é mais sustentável”, afirma.

Com o isolamento social devido à pandemia, analisa, houve queda geral de 17% na emissão de dióxido de carbono na atmosfera, o que não é suficiente para mitigar a crise climática.

“Está claro que só reduzir um pouco o trânsito não é suficiente. Temos que repensar todo nosso modelo de consumo. É um momento que as pessoas estão mais abertas para mudar o comportamento e isso traz oportunidade de acelerar na direção de uma vida mais sustentável”, conclui.

BALANÇO DE 2019

O estudo Second Hand Effect, encomendado pela OLX Brasil, analisou os efeitos positivos do comércio de bens usados e apontou que as transações feitas em 2019 pouparam a emissão de 6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.

É a mesma economia que parar completamente o tráfego de veículos na cidade do Rio de Janeiro por 14 meses interromper por um ano de emissão de gases poluentes por cerca de 2,3 milhões de brasileiros ou de mais de 700 mil domicílios.

As contas se baseiam no princípio de que, ao adquirir um bem usado, a compra do equivalente novo é evitada e as emissões associadas à sua produção e ao seu descarte serão poupadas.

Para realizar o cálculo, foram feitas análises do ciclo de vida dos diferentes itens comercializados na plataforma.

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