É professor de história e deputado estadual do Rio. Presidiu as CPIs das Milícias, em 2008, e do Tráfico de Armas e Munições, em 2011. Foi candidato a prefeito do Rio em 2012.
Impeachment
Aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer. Aquela aliança, você pode empenhar ou derreter. Trocando em miúdos, a aceitação por Eduardo Cunha para que o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff tenha sequência é fruto do velho rancor dos relacionamentos fracassados. O governo queria empenhar, mas Cunha derreteu a aliança.
Mesmo diante das graves denúncias contra o presidente da Câmara, reunidas pelos investigadores da Lava Jato, o ministro Jaques Wagner, logo após assumir a chefia da Casa Civil, em outubro, esteve na residência oficial de Cunha para discutir a relação e um acordo de salvação mútua.
A animosidade não interessava a nenhum dos lados. O peemedebista queria o apoio do governo para salvar seu posto. Wagner desejava apaziguar a crise no Congresso e evitar abertura do impeachment.
Mais do que expressão da crise política, o fracasso deste anti-romance é o retrato do colapso de um modelo de democracia apodrecido e sequestrado pelo conluio entre a elite política e econômica do país. Um dos grandes pecados dos governos petistas foi justamente não ter feito as reformas necessárias para superar estas mazelas. Em vez disso, dançou conforme a música no baile da governabilidade a todo custo.
Basta lembrar que, antes de tentar um acordo com Cunha, Dilma abraçou a chamada Agenda Brasil, capitaneada por Renan Calheiros. Na esperança de tudo se ajeitar, o governo concordou em empenhar as políticas econômicas em troca da própria salvação. A agenda prevê retrocessos como o afrouxamento da legislação ambiental, a revisão das terras indígenas e o incentivo ao trabalho terceirizado.
O governo Dilma é indefensável. Tanto por reproduzir um modelo de governabilidade baseado na extorsão parlamentar quanto pela adoção das políticas de austeridade. Por isso, eu e meu partido lhe fazemos oposição.
Entretanto, somos contra o impeachment porque entendemos que a chantagem feita por Cunha não é uma solução, mas um agravante dos problemas do atual sistema político. Cunha é a representação das aberrações desta democracia leiloada da qual ele mesmo se beneficia. As pedaladas fiscais, praticadas por ex-presidentes, são condenáveis, mas se forem motivo para impeachment quase todos os governadores cairiam.
Só superaremos a crise quando compreendermos que ela é resultado da atual concepção de democracia, não da conjuntura política. Precisamos ampliar o diálogo com a sociedade, ir para as ruas, mobilizar pessoas comprometidas com reformas que detenham a influência do poder econômico, aprofundem os instrumentos de participação social e fortaleçam os mecanismos de transparência.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade