Começou na Folha como repórter da Sucursal no Rio, onde chegou a diretor. Na redação em São Paulo, foi editor de "Cotidiano" e do caderno de política. Foi ainda secretário de Redação da Folha e ombudsman por três anos.
A reforma ministerial
Há um aspecto na cobertura que a Folha vem fazendo da sempre adiada reforma ministerial que incomoda: ela está centrada quase exclusivamente na especulação dos nomes que devem ser defenestrados por Lula e dos que podem ser coroados.
É muito pouco. Não me refiro ao volume, mas à qualidade da cobertura. Ela sofre do vício que desnorteia o noticiário político em geral: dá atenção quase que exclusiva aos interesses do Planalto e ao jogo dos partidos.
É evidente que o jornal tem o compromisso de tentar antecipar para seus leitores os nomes dos futuros ministros. Mas a cobertura não pode ficar limitada aos bastidores das pressões e frituras nem a detalhes que não terão a menor importância no futuro. Ela deveria ter como foco principal o interesse do leitor.
No caso, tão importante quanto antecipar os novos nomes deveria ser a produção de um balanço bem-feito de como trabalhou esse ministério até agora e porque não funcionou.
Quando esteve em Nova York, no dia 3 de março, o ministro José Dirceu (Casa Civil) disse, segundo relato da Folha, que a reforma "visa resolver duas questões: melhorar a eficiência da gestão do governo (...) e consolidar a coalizão de governo".
É possível que seja retórica. O governo não parece preocupado em resolver problemas de gestão. Aparentemente, como assinalou um editorial da Folha, a reforma "não deverá passar de uma operação política de caráter fisiológico com o objetivo de remover em parte as dificuldades que o Executivo tem enfrentado no Congresso Nacional" ("Reforma fisiológica", 8/3).
Mas a consciência dessa redução, de resto comum na política brasileira, não deveria conformar o noticiário do jornal. A Folha critica, com razão, o caráter fisiológico e eleitoral da reforma, mas não foi capaz até agora de impor um novo parâmetro para a cobertura.
Ela deveria estar cobrando do governo a prestação de contas que não apareceu e estar fazendo seu próprio balanço desses dois anos e três meses de gestão.
Vão mudar os ministros da Saúde, da Integração Social, das Cidades, das Comunicações, da Previdência. São áreas estratégicas para o país. Como foram os desempenhos desses ministérios? Há a sensação de que não funcionam. É real? O que foi feito e o que deixou de ser feito?
Essa era a prestação de contas que o governo deveria estar expondo às vésperas de uma reforma ministerial. Não fez e dificilmente o fará. É nessas horas que os jornais têm oportunidade de mostrar quão importantes são no trabalho de vigilância e investigação.
No caso da reforma, tiveram tempo de sobra para fazer um material de primeiríssima. O tema entrou na pauta para valer a partir de novembro. Com a ajuda do Banco de Dados, fiz um levantamento das reportagens publicadas nesses cinco meses. Foram pouquíssimas as que podem ajudar o leitor a avaliar os ministérios e alguns nomes que estão na berlinda.
Cito algumas, as mais recentes: "Com Eunício [ministro das Comunicações, do PMDB-CE], Ceará expande comunicações" (1º/3); "Cadastro de rádio e TV embaraça ministério" (3/3); "Sob Lula, saneamento passa por pior crise" (6/3); "População descrê de obra no São Francisco" (13/3); "Deputado [Ciro Nogueira, do PP-PI, cotado para um ministério] dá emprego a parentes". Nenhuma abrangente o suficiente para ser considerada um balanço.
Se não é por falta de tempo nem de espaço, por que será que a Folha não conseguiu produzir uma cobertura diferenciada? A imprensa, e não só a Folha, parece ter só uma preocupação: a disputa pelo troféu de quem acerta o maior número de novos ministros. Mesmo que para isso tenha de gastar muitas páginas com "chutes" e especulações.
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