Começou na Folha como repórter da Sucursal no Rio, onde chegou a diretor. Na redação em São Paulo, foi editor de "Cotidiano" e do caderno de política. Foi ainda secretário de Redação da Folha e ombudsman por três anos.
As fotos do Chico
Volto ao tema do jornalismo de celebridades provocado por um novo episódio. O "Estado de S.Paulo" e a Folha publicaram, na quarta, uma foto do compositor Chico Buarque à tarde, no mar do Leblon, no Rio, beijando uma mulher.
A Folha editou a foto na coluna "Mônica Bergamo", na Ilustrada, mas a retirou quando 20% da edição (cerca de 60 mil jornais) já havia sido rodada. As edições que recebi no Rio (a Nacional e a São Paulo) não tinham a foto.
O "Estado" publicou a mesma foto na primeira página, pequena, e internamente. O texto da primeira: "Personalidade. É só uma amiga, diz Chico após o beijo. Compositor está na capa da revista "Quem", fotografado no mar do Leblon".
Achei a publicação do flagrante despropositada. Como não tinha visto a foto na Folha, comentei apenas o caso do "Estado" na Crítica Interna: "O "Estado" se rende à onda do jornalismo de celebridades e publica hoje (...) foto do compositor Chico Buarque beijando uma mulher na praia do Leblon. A justificativa jornalística é a de que a foto está na capa de uma revista de celebridades".
Na mesma quarta, o "Diário de S.Paulo", do grupo que edita "O Globo" do Rio, também publicou o flagrante e foram para as bancas duas revistas com as fotos originais, "Quem" e "Contigo". No dia seguinte, o "Agora", diário da Empresa Folha da Manhã que também edita a Folha, reproduziu as fotos com o nome da amiga de Chico e a informação de que seria casada.
Enviei um e-mail para o "Estado" e recebi do editor-executivo Roberto Gazzi a seguinte justificativa: "Entendemos que Chico Buarque, por sua história, é e será sempre um grande tema jornalístico. E no caso, sendo uma figura pública e fotografado num local público, não consideramos que tenha ocorrido invasão de privacidade".
A Folha justificou a publicação com os mesmos argumentos. E por que retirou a foto no meio da impressão? A explicação é da secretária de Redação Suzana Singer: "Decidimos tirar a foto quando recebemos a informação de que a mulher, casada, tem filhos pequenos. Entre atender a curiosidade pública e expor crianças a possíveis situações vexatórias, optamos pela não publicação. A intenção não foi proteger Chico Buarque".
Achei correta a decisão do jornal de suprimir a foto. E continuo questionando o interesse de jornais como a Folha e o "Estado" em casos como esses em que não existe qualquer relevância, exceto a curiosidade.
Duas observações sobre este assunto.
1 - É certo que cabe ao próprio Chico Buarque zelar por sua privacidade e a de sua companheira de banho. Ao se dispor a namorar numa praia, no meio da tarde, é claro que estava sujeito à curiosidade das pessoas e ao flagrante da imprensa. Acho compreensível que publicações que vivem do acompanhamento de artistas e celebridades se interessem pela foto.
2 - Mas, e jornais que se pretendem sérios, formadores de opinião, como a Folha e o "Estado", como devem se comportar? Não é uma resposta fácil. Primeiro, porque os próprios jornais reconhecem que estão chatos, pesados, e precisam mudar. Em que direção? Segundo, porque precisam ampliar e renovar seu leitorado e têm de disputar o jovem com as TVs, a internet e as revistas de entretenimento. Terceiro, porque há uma pressão cada vez maior por esse tipo de cobertura considerada leve e inconseqüente.
A propósito, há uma frase boa no "Estado" de sexta. Ao comentar a situação dos jornais ingleses, que se mexem para não perder mercado, o editor Robert Thomson, do "The Times", brincou: "O público para o jornalismo sério está aumentando, mas o jornalismo sério é seriamente caro".
Não tenho uma posição purista a respeito da cobertura de famosos, escândalos e futilidades. Acho que há espaço em jornais como a Folha para este tipo de notícia. Desde que seja uma história que valha a pena contar. Não vi isso nas fotos de Chico.
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