Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcelo Leite

Pesquisadores propõem nova categoria de furacões, força 6

Só 5 de 197 tormentas tiveram ventos acima de 309 km/h desde 1980, mas superciclones serão mais frequentes e devastadores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Uma das ventanias mais fortes já ocorridas no Brasil alcançou 168,8 km/h. Foi em Siderópolis (SC), de 30 de junho para 1º de julho de 2020, um ciclone-bomba que deixou 13 mortos.

A velocidade do vento, caso tenha sido medida a 10 m do solo por ao menos 1 minuto, qualificaria a tempestade como um furacão de força 2 (154 a 177 km/h) na escala Saffir-Simpson de intensidade de ciclones tropicais.

Além dos furacões do Atlântico, entram nessa classe de tempestades também tufões do Pacífico. Os 168,8 km/h empalidecem diante dos 315 km/h (força 5) do supertufão Hayan, que em novembro de 2013 fez mais de 7.000 vítimas nas Filipinas e causou danos de mais de US$ 13 bilhões (R$ 65 bilhões).

Imagem de satélite mostra o furacão Ian, quando se aproximava da Flórida, nos EUA, em setembro de 2022 - Jose Romero/NOAA/RAMMB - 28.set.22/AFP

A escala foi criada em 1971 pelo engenheiro Herbert Saffir e pelo meteorologista Herbert Simpson. De início incluía critérios como magnitudes de precipitação e ressaca marinha, mas terminou baseada exclusivamente na força do vento.

A força 5, faixa mais alta de intensidade, começa em 252 km/h, bem aquém do que se observou no ciclone Hayan. Há algum tempo se discute se a crise do clima está a exigir a inclusão de uma categoria 6, proposta que voltou à baila segunda-feira (5) num artigo do periódico científico PNAS, da academia de ciências dos EUA.

Os pesquisadores Michael Wehner e James Kossin não só propõem a força 6 como estipulam, a partir de cálculos estatísticos, que ela parta de 309 km/h. Por esse critério, apenas cinco ciclones cairiam na categoria hipotética –e todos eles ocorreram na última década no oceano Pacífico (que não se perca pelo nome).

Essa concentração em tempos recentes dá pista de que se trata de uma intensificação de tufões impelida pela mudança do clima. A força desses ciclones está diretamente relacionada com a temperatura na superfície do mar, seu combustível, e ela aumenta com o aquecimento global.

Se mantida só a categoria máxima em força 5, o registro histórico desde 1980 aponta um total de 197 tempestades com tal intensidade. E metade delas aconteceu nos últimos 17 anos, informam Wehner e Kossin, aí incluídos os furacões do Atlântico.

Seu argumento em favor de ampliar a escala tem a ver com comunicação de risco e danos. Eles acham que, tendo uma categoria final sem limite superior, a Saffir-Simpson não dá a devida visibilidade pública para ciclones devastadores que tendem a se tornar mais frequentes.

Com efeito, essa é uma predição comum em modelos que projetam o futuro do clima. Ciclones são motores titânicos que transferem calor do oceano para a alta atmosfera, produzindo bancos de nuvens e ventos circulares com diâmetros de até 500 km; quanto mais quentes as águas, mais potentes eles tendem a se tornar.

O Acordo de Paris (2015) fixou que o aquecimento da atmosfera não deveria chegar a 2ºC e, de preferência, estacionar em 1,5ºC acima da era pré-industrial, para prevenir o aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos como ciclones, incêndios florestais, ondas de calor mortais, secas e enchentes.

Soa familiar? O ano de 2023 foi o mais quente já registrado, e 2024 pode até bater esse recorde.

Os últimos 12 meses, pela primeira vez na história, tiveram temperatura média de 1,5ºC acima do limiar de segurança de Paris. Mas serão necessários mais alguns anos nesse patamar para concluir que a ultrapassagem não tem reversão à vista.

Algumas projeções climáticas indicam que, se a atmosfera se aquecer 2ºC até a metade deste século, trajetória cada vez mais plausível, duplicará a probabilidade de furacões da nova categoria 6 no golfo do México.

O furacão Katrina, que fez quase 2.000 mortos em 2005, alcançou só força 5 no mar (280 km/h) e 3 quando tocou a orla de Nova Orleans. O Maria, que devastou Porto Rico em 2017 com força 4, teve quase 3.000 mortes.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.