Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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2024 será mais quente que 2023 e o ano mais fresco na vida de nossos netos

Combatamos a crise do clima, afinal resoluções de Ano-Novo são para descumprir

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A escolha é nossa. Podemos ouvir a agência meteorológica britânica (Met Office), como fez a Reuters, ou podemos ouvir um professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Luiz Carlos Baldicero Molion, como fez a CPI das ONGs e reproduziu a TV Senado.

Começando pelo bode preto na sala: Molion conseguiu, nos 3min45s da reportagem, negar tudo que diz há 35 anos o IPCC, painel científico da ONU e da Organização Meteorológica Mundial. Teve senador ruralista que aplaudiu.

O palestrante, que percorre o Centro-Oeste a soldo do ogronegócio para dizer o que bolsonaristas querem ouvir, afirmou que a Amazônia não influencia o clima e que a atmosfera é regulada pelos oceanos, não pelo CO2. Um parlamentar comemorou a comprovação de que ambientalistas e União Europeia estariam errados.

Pescador atravessa caminhando o leito seco do rio Solimões; 2024 promete mais secas e mais ondas de calor - Lalo de Almeida - 13.out.2023/Folhapress

Aldo Rebelo também aplaudiria. Sim, aquele político que já foi comunista, socialista, solidarista, que hoje está pedetista e que celerados do PT querem voltar a ver ministro da Defesa, talvez para reforçar a banda nacional-desenvolvimentista que delira com explorar petróleo na foz do Amazonas.

Ali mesmo, pertinho de Belém do Pará, sede em 2025 da COP30, cúpula do clima que nada conseguiu resolver em três décadas de falatório anticlimático. Assim continuará, se depender dos fósseis que mandam no Planalto e no Congresso.

Melhor ouvir o Met Office, mesmo sob risco de cancelamento decolonial. Seus especialistas predizem que o ano que vem poderá ser ainda mais quente do que 2023 —o mais escaldante em 125 mil anos, diga-se. Cruzaremos o limiar de 1,5ºC de aquecimento fixado como limite prudencial no Acordo de Paris (2015).

Em outras palavras: 2024 promete.

Promete mais secas, como a que assola no presente o semi-árido sertão nordestino e transformou o rio Solimões numa sucursal do Saara, como se viu na foto espantosa de Lalo de Almeida. Mais chuvas no Sul, a prosseguir este El Niño endiabrado.

Mais ondas de calor, menos soja, mais desmatamento no cerrado, menos na Amazônia (com sorte), mais deslizamentos de morros e barracos, menos segurança alimentar...

Para seguir a tradição de providências que nada resolvem, quando não pioram as coisas, aqui vão algumas resoluções de Ano-Novo. Primeira: conversar mais com os netos sobre o aquecimento global que nossa geração deixou escapar de controle –eles, afinal, pagarão o pato.

Comer menos carne, por falar nisso. Na troca de carro, escolher um modelo híbrido plugável e, se inevitável abastecer, preferir como sempre o etanol. Viajar menos de avião? Complicado.

São todas medidas significativas de mitigação. Mitigação mais da consciência do que do aquecimento global, fique bem claro. Ser mais honesto em 2024 é outra decisão, não menos difícil de cumprir.

Restam as medidas de adaptação. Comprar uma segunda fileira de cortinas para tentar insular melhor o apê com varanda gourmet envidraçada. Instalar ar-condicionado na casa da serra.

Comprar ventiladores e repelente para garantir. Orçar mais duas placas de energia solar fotovoltaica. De quebra, uma bancada de baterias para ter energia, dia sim e outro também, quando a Elektro interromper o fornecimento por qualquer ventania em Santo Antônio do Pinhal (SP).

Não abusar da ironia, faca de dois gumes cegos, inúteis para fazer picadinho do desgosto. Não deixar que amargura, resignação e enfado risquem de vez a crise climática do rol de assuntos merecedores de colunas que ninguém lê, ou, se lê, esquece tão rápido quanto resoluções de Ano-Novo.

Bom 2024 para você também. O ano promete.

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