Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

A magia dos tradutores eletrônicos

Um bom tradutor precisa conhecer a cultura da sociedade que gerou o texto

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A tradução de textos entre diferentes línguas é um problema sabidamente complicado. A dificuldade começa com o fato de que o significado de cada palavra depende do contexto. O meu professor de inglês no colégio gostava de lembrar que "peça" pode ser tanto uma parte de um equipamento ("piece" em inglês) quanto uma representação teatral ("play"). Para determinar o sentido de cada palavra um bom tradutor precisa atentar para toda a frase e, possivelmente, as frases vizinhas.

Depois, há as regras gramaticais, que variam de uma língua para outra. Ao contrário do português, no inglês os adjetivos costumam ir antes dos substantivos: "a big man" não é "um grande homem". E em alemão os verbos vão muitas vezes no final da frase.

Uma piada que circula no meu meio fala de um livro de álgebra escrito por um professor alemão em dois volumes: no primeiro estariam os teoremas e no segundo os verbos. Já pensou como seria a tradução?

Papa, abaixo a cabeça e olha para baixo, enquanto segura fones no ouvido. Ele ainda segura uma espécie de rádio na mão esquerda
Papa Francisco escuta tradução durante oração em Nicósia, no Chipre - Andreas Solaro/AFP

Isso para não falar de expressões idiomáticas como "the cow went to the swamp", tradução jocosa de Millôr Fernandes de "a vaca foi para o brejo". Um bom tradutor precisa conhecer também a cultura da sociedade que gerou o texto.

Por essas e outras razões, as primeiras tentativas de traduções por computador produziram resultados medíocres, para não dizer ridículos. E no entanto hoje em dia existem algoritmos tradutores de ótima qualidade, que rivalizam com os humanos.

O mais famoso e utilizado é Google Translator, que cobre mais de 100 línguas e 99% dos textos na internet. Já DeepL Translate, desenvolvido por uma pequena empresa alemã, afirma ser o melhor, e os meus amigos em computação científica concordam. Decidi testá-lo com uma prova de fogo: traduzir para inglês a primeira estrofe do hino nacional brasileiro, com seu exagero barroco de artifícios estilísticos. O resultado da tradução foi praticamente perfeito, mostrando que DeepL entendeu o texto do hino muito melhor do que eu na primeira vez em que o li!

Como chegamos a esse ponto?

As primeiras traduções automáticas são quase tão antigas quanto os primeiros computadores, remontando aos anos 1950, mas a tecnologia passou por diversas revoluções nessas sete décadas. A mais recente —tradução por redes neurais— ocorreu apenas meia dúzia de anos atrás, por volta de 2015, e teve um impacto notável na qualidade dos resultados. Comentarei na semana que vem.

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