Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Matemática explica o paradoxo 'hipster'

Grupos antipadrão acabam sincronizando seus comportamentos

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Quem tem filhos adolescentes já viu acontecer. Jovens rejeitam padrões estabelecidos, querem trazer sua individualidade, fazer diferente. E o resultado é que acabam parecendo todos muito iguais, no que vestem, no corte de cabelo, no modo como falam, naquilo que fazem.

O efeito (ou paradoxo) "hipster", como é chamado esse fenômeno, está longe de ser uma coisa específica da juventude. Em domínios tão distintos quanto as ciências sociais, a economia e as finanças ou as neurociências, se observa que a interação entre um grupo majoritário e um certo número de inconformistas (hipsters), que rejeitam o padrão da maioria, frequentemente leva a que os inconformistas gradualmente sincronizem suas atitudes de tal forma que acabam adotando comportamentos idênticos, criando um novo tipo de conformismo. Também não é exclusivo de seres humanos: componentes de certos materiais ("spin glasses") fazem o mesmo.

Curva apresentada no artigo de Jonathan Touboul sobre efeito hipster
Curva apresentada no artigo de Jonathan Touboul sobre efeito hipster - Reprodução

Anos atrás, o pesquisador Jonathan Toubol, da Universidade Brandeis, nos Estados Unidos, forneceu uma explicação para esse fenômeno contraintuitivo. Em trabalho publicado no periódico científico "Discrete and Continuous Dynamical Systems", Toubol apresentou um modelo matemático —conjunto de equações— que descreve a evolução de um sistema formado por uma maioria conformista e um certo número, maior ou menor, de hipsters que se opõem aos padrões majoritários.

O seu estudo desse modelo mostrou que, a partir de situações iniciais muito variadas, o grupo hipster passa por uma espécie de metamorfose (transição de fase) em que os seus membros sincronizam os seus comportamentos entre si, sempre em oposição à maioria. Toubol conclui que, longe de ser um paradoxo, o efeito hipster é resultado inevitável da interação dentro de grupos grandes de agentes.

Uma publicação sobre esse assunto na "MIT Technology Review" teve um efeito inesperado e desconfortável. Um homem que se considera inconformista, descontente com a matéria, ameaçou processar a revista, acusando-a de ter usado como ilustração, sem autorização, uma foto roubada das suas redes sociais.

Resulta que estava enganado, a foto não era dele: tratava-se de uma foto de estoque, adquirida legalmente pela revista, que representava um modelo masculino de um hipster de barba, usando uma camisa estampada de flanela e um gorro de lã.

Acontece que os dois homens e seus visuais eram idênticos! Toubol deve ter sorrido...

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