Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Navegar é preciso, com matemática

Flutuação de navios pode ser usada para prever movimento das ondas

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Segundo relatório do World Shipping Council, quase 1.400 contêineres caem de navios de carga para o mar a cada ano (em 2020 foram mais de 3.000 perdas!). É um dano significativo para o comércio mundial.

Esse problema poderá ser mitigado se soubermos prever melhor a altura, profundidade e direção das ondas. A meteorologia é um fator importante, mas há outros: mesmo com tempo bom, ondas podem se comportar de modos muito diversos. Equipamentos específicos de radar podem ajudar, mas são caros e nem todo navio tem, além do que nem sempre são confiáveis.

Navio cargueiro cheio de contêineres no mar
Artigo estudou o movimento de flutuação dos navios para calcular informações sobre o comportamento presente e, sobretudo, futuro das ondas - Alf Ribeiro - 17.set.21/Folhapress

Em artigo publicado na revista Marine Structures, pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia propuseram uma abordagem interessante. A ideia inicial é chamada "analogia de boia de onda": pensar que o navio é uma boia, subindo e descendo em conjunto com o próprio oceano, e usar esse movimento de flutuação para calcular informações sobre o comportamento presente e, sobretudo, futuro das ondas.

Em teoria, o cálculo é muito simples: basta resolver uma equação linear, que é o tipo mais fácil que existe. Claro que na prática surgem dificuldades. Atualmente, a equipe está testando o método em modelos de navios parados, com resultados promissores. Um desafio será necessário para aplicá-lo a navios em movimento, cuja analogia com boias é menos óbvia.

Uma questão que foi necessário resolver é que navios não têm forma de boia (rosca ou bola): a geometria do casco do navio precisa ser levada em conta no cálculo. Na verdade, a analogia onda-boia já era conhecida desde os anos 1980, mas a equipe norueguesa constatou que por si só ela não dá resultados muito precisos.

Para fazer funcionar, eles precisaram suavizar os dados usando uma técnica que é chamada curva de Bézier, em homenagem ao engenheiro francês Pierre Bézier (1910–1999), que a desenvolveu e popularizou. Falarei sobre ele na semana que vem.

O mais curioso é que Bézier estava a serviço da Renault, e o seu objetivo era viabilizar o uso de computadores para projetar carrocerias bonitas e funcionais para os automóveis produzidos por seu empregador. Que essas mesmas ideias sejam igualmente úteis na navegação e, de fato, estejam hoje na base de praticamente qualquer projeto CAD (desenho assistido por computador), é mais uma manifestação da universalidade da matemática que faz dela uma ferramenta tão poderosa para compreender e mudar o mundo.

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