Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Quem criou a Teoria da Relatividade: Einstein ou Poincaré?

Einstein viveu 40 anos mais que o francês e teve tempo para nos convencer de que sua teoria era melhor

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Em 1905, seu "annus mirabilis" (ano maravilhoso), o físico alemão Albert Einstein (1879–1955) publica quatro trabalhos científicos absolutamente fora de série. Entre eles, "Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento" funda a Teoria da Relatividade (restrita), um dos avanços mais revolucionários da história da ciência.

A teoria se apoia em duas ideias centrais: as leis da física são as mesmas para todos os observadores em movimento uniforme (princípio da relatividade); a velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os observadores, independentemente do seu movimento em relação à fonte de luz.

As consequências são contraintuitivas. Eventos simultâneos para um observador podem não sê-lo para outro. Relógios em movimento medem o tempo mais devagar, e objetos ficam mais curtos na direção em que se deslocam. Nada no Universo se move mais rapidamente que a luz. Massa e energia são conceitos equivalentes, relacionados pela famosa equação E=mc2.

Holograma de Albert Einstein em feira eletrônica em Berlim - Tobias Schwarz/AFP

Mas quanto disso era realmente novo?

Em 1887, os físicos norte-americanos Albert Michelson (1852–1931) e Edward Morley (1838–1923) tinham tentado medir o movimento absoluto da Terra em relação ao "éter" que preencheria todo o espaço. Tentado e fracassado.

Visando explicar os resultados de Michelson e Morley, em 1895 o holandês Hendrik Lorentz (1853–1928) introduzira um conjunto de fórmulas relacionando as observações de dois observadores em movimento.

Esse trabalho atraiu a atenção do matemático francês Henri Poincaré (1854–1912), que, no mesmo ano, publicou a primeira versão do princípio da relatividade: "é impossível determinar o movimento absoluto em relação ao éter: tudo o que podemos medir é o movimento relativo entre dois corpos".

Poincaré melhorou o trabalho de Lorentz, ao mesmo tempo em que lhe atribuía crédito total. "Poincaré, pelo contrário, obteve uma invariância perfeita das equações da eletrodinâmica e formulou o ‘princípio da relatividade’, termos que ele foi o primeiro a utilizar. Acrescentemos que, enquanto dessa forma corrigia as imperfeições do meu trabalho, ele nunca me criticou por elas", escreveu Lorentz.

Selo postal francês lançado em 1952 em homenagem a Henri Poincaré - Reprodução/Reprodução

Em junho de 1905 —mesmo mês em que Einstein submeteu seu artigo para publicação—, Poincaré publica "Sobre a dinâmica do elétron", um artigo de apenas cinco páginas, em que formulava de forma clara o seu princípio da relatividade. "A impossibilidade de evidenciar experimentalmente o movimento da Terra parece ser uma lei geral da natureza. Somos então levados a aceitar essa lei, que chamamos ‘princípio da relatividade’, e aplicá-la sem restrição."

Para quase todos os efeitos, a contribuição de Poincaré foi esquecida, e Einstein recebeu crédito total pela nova teoria. Que, aliás, ele iria generalizar uma década depois, ao criar a Teoria da Relatividade Geral, incorporando o fenômeno da gravitação. Esse estado de coisas parece justo: para o estudioso moderno, a formulação da relatividade de Einstein parece superior.

Mas até que ponto isso tem a ver com o fato de que Poincaré morreu jovem, aos 54 anos? Sobrevivendo ao francês em mais de quatro décadas, Einstein teve todo o tempo para nos convencer de que a sua teoria era melhor.

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