Marcia Castro

Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

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Saúde sem fronteiras

ONG promove saúde sem discriminação, com respeito à cultura e com dignidade

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A organização não governamental (ONG) e sem fins lucrativos Médicos Sem Fronteiras (MSF), criada em 1971, oferece ajuda médico-humanitária a pessoas afetadas por conflitos armados, catástrofes socioambientais, desnutrição, epidemias e exclusão do acesso a cuidados de saúde. Em 1999, o MSF recebeu o prêmio Nobel da Paz.

Em 2022, o MSF tinha mais de 63 mil profissionais de diferentes áreas e nacionalidades atuando em 70 países. O trabalho não é voluntario. Todos os profissionais têm um contrato e são remunerados.

As ações são inúmeras. Por exemplo, em 2022 foram mais de 16 milhões de consultas, 295 mil partos, 118 mil cirurgias, 127 mil crianças desnutridas atendidas, 425 mil atendimentos de saúde mental, 4,2 milhões de casos de malária tratados e mais de 4,1 milhões de vacinas contra sarampo aplicadas. A maior parte dos projetos, gastos e profissionais estão concentrados no continente africano.

 Profissionais do Médicos Sem Fronteiras procuram locais para instalar pontos de água para moradores do Jardim Lapena, em São Paulo, para melhorar higienização e proteção contra  a Covid-19
Profissionais do Médicos Sem Fronteiras procuram locais para instalar pontos de água para moradores do Jardim Lapena, em São Paulo, para melhorar higienização e proteção contra a Covid - Eduardo Anizelli 24.jul.20/ Folhapress

E no Brasil?

A primeira atuação do MSF no Brasil foi em 1991, em resposta a uma epidemia de cólera nos estados do Pará e Amazonas que afetou comunidades ribeirinhas e indígenas. Nessa época ainda não havia a Estratégia de Saúde da Família. Portanto, a atenção primária e o acesso à saúde eram limitados nessas áreas. O mesmo desafio se repetiu dois anos depois em ações de combate à malária em áreas yanomami e macuxi, em Roraima.

Diante desse cenário, além de atendimento médico, o MSF focou o treinamento de profissionais das comunidades ribeirinhas e indígenas. Manejo de casos de cólera, noções de primeiros socorros e formação de microscopistas para diagnóstico de malária foram algumas das capacitações locais. Centenas de pessoas foram treinadas e muitas ainda atuam como agentes comunitários e microscopistas em suas comunidades.

Várias ações foram realizadas com moradores de áreas violentas e em situação de rua no Rio de Janeiro, incluindo ampliação da rede de assistência, educação em saúde para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e cuidados médicos e de saúde mental. Crises humanitárias envolvendo imigrantes do Haiti e da Venezuela também contaram com o apoio do MSF na promoção de saúde.

O MSF atuou em vários desastres ambientais (enchentes no Nordeste, deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro e o rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho). Além de cuidados médicos e apoio psicológico às famílias afetadas, o MSF treinou equipes locais, distribuiu material de higiene e ajudou a melhorar as condições de saneamento.

A maior atuação do MSF no Brasil, entretanto, foi durante a pandemia de Covid-19. Uma resposta necessária não só por se tratar de uma emergência sanitária, mas devido à resposta catastrófica do governo que piorou ainda mais a situação dos mais vulneráveis.

Centenas de profissionais promoveram atendimento médico e assistência às populações em situação de vulnerabilidade, apoio na melhoria de protocolos de manejo da Covid-19, treinamento para profissionais da linha de frente, reforço da estrutura de saúde, ampliação da capacidade de testagem, apoio psicológico para profissionais de saúde e educação em saúde. Além disso, em um esforço de combate à desinformação, o MSF apoiou a disseminação de mensagens (não só em português, mas também em línguas indígenas).

O MSF promove saúde sem fronteiras, sem discriminação, com respeito à cultura e com dignidade. Ao treinar profissionais locais, busca a continuidade e a multiplicação das ações promovidas.

Várias organizações e coletivos foram cruciais durante a pandemia. É preciso documentar, valorizar e divulgar esse trabalho.

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