Marcia Castro

Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

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Marcia Castro

Envelhecimento da população e o desafio da demência

OMS estima que 139 milhões de pessoas terão demência no mundo em 2050

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A demência afeta principalmente pessoas acima de 60 anos. Leva à deterioração da função cognitiva e da capacidade de realizar atividades diárias, e é uma das principais causas de incapacidade e dependência. Resulta de doenças e lesões que afetam o cérebro, como a doença de Alzheimer ou o acidente vascular cerebral (AVC).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 55,2 milhões de pessoas viviam com demência no mundo em 2019. Esse número pode chegar a 139 milhões em 2050.

No Brasil, são cerca de 1,8 milhão de pessoas acima de 60 anos com demência, porém a grande maioria, 77%, nunca teve um diagnóstico formal. A estimativa é que em 2050 o Brasil possa ter 5,5 milhões de pessoas vivendo com demência.

Mulher caminha em corredor, apoiando-se em uma das paredes
Mulher com doença de Alzheimer em casa de repouso na França - Sebastian Bozon /AFP

Apesar do esperado aumento no número de casos devido ao envelhecimento populacional, cerca de 40% dos casos de demência no mundo poderiam ser prevenidos pela mudança em 12 fatores de risco ao longo da vida: educação (antes dos 45 anos de idade), hipertensão, obesidade, perda auditiva, traumatismo cranioencefálico e abuso de álcool (entre 45 e 65 anos) e tabagismo, depressão, inatividade física, isolamento social, diabetes e poluição do ar (acima dos 65 anos).

Considerando esses 12 fatores de risco, 48,2% dos casos de demência no Brasil poderiam ser evitados. A mudança é ainda maior entre as regiões de mais baixa renda (54%).

O controle da obesidade e da hipertensão entre 45 e 65 anos poderia prevenir 13,2% dos casos. A garantia de que pessoas abaixo de 45 anos tenham no mínimo oito anos de estudo poderia prevenir 7,7% dos casos (9,6% entre as regiões de mais baixa renda).

A prevenção, portanto, demanda ações cujos efeitos são de longo e médio prazo. A OMS criou um plano global com sete áreas de ação e metas específicas a serem alcançadas entre 2017 e 2025. Mas o progresso ainda é lento.

Estigma e discriminação são barreiras no acesso ao diagnóstico e tratamento. Os serviços demandados por uma pessoa com demência incluem cuidados de saúde primários, cuidados médicos especializados, serviços baseados na comunidade, reabilitação, cuidados prolongados e paliativos. Envolve profissionais de saúde e de assistência social, além de apoio familiar.

Em 2019, o custo global da demência foi estimado em US$ 1,3 trilhão, cerca de US$ 23,8 mil por caso. Há carência de redes públicas de cuidados prolongados, sobrecarregando as famílias financeira e mentalmente. Metade do custo global é atribuído ao tempo dedicado por familiares ao cuidado da pessoa com demência.

Um dos modelos mais bem-sucedidos é o implementado na Holanda, onde pessoas com demência moram em uma vila de forma digna, recebendo cuidado integral e ininterrupto. Residentes interagem com cuidadores, médicos, enfermeiros e outros profissionais, além de familiares e amigos. Tudo custeado pelo governo.

O modelo da Holanda não é fácil de replicar globalmente. Mas serve como inspiração e desafio para que outros sejam pensados.

No Brasil, a falta de redes públicas de cuidado prolongado, a alta taxa de casos de demência não diagnosticados, a tendência crescente de obesidade, diabete e hipertensão, as desigualdades sociais e o envelhecimento da população deixam claro que uma política nacional de ações de longo prazo para prevenção e cuidado da demência deveria ser uma prioridade.

É preciso uma agenda social, com foco na equidade, que aborde o ciclo da vida, desde a infância, para garantir uma velhice digna e saudável. Sem essas ações a inequidade no cuidado será enorme e o custo social, inaceitável.

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