Não há otimismo sobre o atual momento do Brasil que sobreviva a uma boa olhada nas curvas de juros e de inflação. O termo parece tedioso ou técnico demais, mas vou simplificar. E mais, dá para ganhar algum dinheiro com isso até mesmo a curto prazo.
Na hora de criar uma carteira de investimentos, é comum comprar alguns títulos do Tesouro Direto, papéis de renda fixa que são títulos de dívida do governo. E as taxas oferecidas para quem topa "emprestar" dinheiro ao governo variam de acordo com o risco tomado.
Assim, títulos cujo vencimento será daqui a duas décadas costumam pagar mais do que os com vencimento próximo. Isso porque a dificuldade de prever o comportamento do mercado aumenta conforme o horizonte se distancia, numa lógica cartesiana.
A NTN-B, por exemplo, é um título público atrelado à inflação, que paga o valor investido, corrigido pelo IPCA (nosso principal indicador de inflação) e somado a um percentual de rendimento, a chamada taxa.
No fim de 2019, antes do início da pandemia do coronavírus, uma NTN-B com vencimento em 2024 pagava a correção pelo IPCA mais uma taxa de 2%, enquanto a de vencimento em 2050 pagava uma taxa de quase 3,5%.
Quando a Selic foi a 2%, essa diferença ficou ainda maior. Para alguém topar investir em uma NTN-B 2050, ou seja, emprestar dinheiro a longuíssimo prazo, o governo passou a oferecer taxas de 4%, enquanto as de vencimento em 2024 pagavam pouco mais de 1%.
Agora, entretanto, com os sequenciais avanços da Selic para tentar conter a inflação e a dificuldade de garantir alguma estabilidade, mesmo que a curto prazo, as taxas se encostaram. Ambas estão pagando entre 5,5% e 6%, além da correção IPCA.
Em outras palavras: com a guerra encarecendo insumos, o amanhã ficou tão imprevisível quanto daqui a 20 anos. A boa notícia é que isso aumentou tremendamente a oferta de títulos pagando bem, e mais, há uma boa chance de ganhar dinheiro com esses títulos já nos próximos meses.
É aí que mora a oportunidade mais interessante: engana-se (e muito) quem acha que a ideia aqui é comprar os títulos e carregá-los na carteira até o vencimento (quem sabe onde estará em 2050, aliás?).
O nome "renda fixa" engana. O ganho é previsível para quem segura os papéis até o vencimento. No meio do caminho, porém, há oportunidades de vendê-los no chamado mercado secundário.
A mágica da "marcação a mercado", que é o preço praticado no mercado secundário, é ela reagir às mudanças dos índices aos quais o título é atrelado. No caso da NTN-B, quando cai o IPCA, os títulos passam a ser negociados mais caros no mercado secundário.
Isso porque, com a queda da inflação, o governo tende a emitir novos títulos pagando taxas mais baixas. Assim, quem comprou uma NTN-B com taxa de 6% tem em mãos um título valioso, já que os próximos a serem emitidos pagarão menos.
Por isso, quando há uma queda na inflação, vale a pena negociar tais papéis antes do vencimento, no mercado secundário, e embolsar a diferença. Um caso interessante, de ganhos de 90% em cerca de um ano, com títulos de renda fixa, está aqui: bit.ly/3KU9CHt.
Nossa inflação tem origens globais e parece indomável. Zonzo, o governo Bolsonaro aumenta a taxa de juros ao mesmo tempo que injeta mais dinheiro na economia, permitindo novos saques do FGTS.
Ainda assim, os especialistas acham difícil que a Selic vá muito além dos atuais 11,75% ao ano. Assim, ter títulos atrelados ao IPCA pode dar bons frutos já nos próximos meses, para quem souber negociar no mercado secundário.
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