Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu Selic juros copom

Nada de soja ou petróleo; o destino do Brasil em 2022 é exportar Selic

Para quem busca ganhos na Bolsa, o melhor é fazer um bom check-up com o cardiologista neste fim de ano

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"Paraíso dos rentistas e inferno dos empreendedores", assim o ex-superministro (hoje apenas ministro) da Economia Paulo Guedes se referia ao país cujo destino econômico parecia estar em suas mãos, em 2019.

Três anos após sua posse, nossa taxa de juros galopa em direção aos dois dígitos. Um cavalo montado por rentistas pisoteando empreendedores pelo caminho. Afinal, dinheiro caro é bom para quem empresta e péssimo para quem precisa.

A inflação é global, claro, tal qual a pandemia e a necessidade de estimular a economia. E combatê-la passa por aumentar a Selic. O problema é como os aumentos não estão servindo para combater a dolorosa inflação.

Sede do Banco Central em Brasília - Adriano Machado - 29.out.2019/Reuters

O motivo é o que, no mercado, chamam de desastre fiscal. O cenário é tão ruim, que se comemora até a institucionalização do calote, com a PEC dos Precatórios. Por mais que embalada em papel brilhante, trata-se da formalização de que o governo não vai mesmo pagar suas dívidas —reconhecidas e, até então, garantidas pelo Judiciário.

Nesta semana, entrou nesta conta a decisão do banco central dos Estados Unidos (Fed) de reduzir os estímulos à economia de forma drástica já em janeiro, com a perspectiva de três altas de 0,25 pontos percentuais na taxa de juros em 2022.

Como isso vai encarecer o dinheiro (e atrair os rentistas) por lá, vem mais chicotada no cavalo da Selic por aqui.

A partir do momento em que emprestar dinheiro nos EUA torna-se uma opção interessante para os donos dos grandes cofres, aportar nos mercados emergentes, como o Brasil, passa a ser menos atraente. Acirra-se, assim, a disputa pelos investidores dispostos a correr mais riscos, com países como Chile, Peru e África do Sul...

O ideal, claro, era termos um governo disposto a apostar em aumento da segurança institucional e em firmar compromissos, mas, às vésperas de uma eleição presidencial, a solução simples —e ineficaz— já esperada é aumentar a Selic. Por isso, os próximos aumentos já são previstos pelo mercado, ou, no termo técnico, já estão "precificados".

Com essa precificação, o investidor de renda fixa consegue encontrar oportunidades interessantes. Ano passado, uma boa debênture (título de dívida de empresa privada) pagava IPCA + 4%, o que significa receber de volta seu dinheiro corrigido pela inflação mais uma taxa de 4% ao ano, no vencimento do título. Hoje, há boas empresas oferecendo IPCA + 6%.

Para quem quer entrar agora nos investimentos de renda fixa, o nosso caos político é até um bom cenário. Para quem já está com títulos atrelados à inflação ou à Selic na carteira, o conselho é segurar os papéis, pois vender antecipadamente, por agora, vai cobrar uma penalidade alta.

Para quem busca ganhos na Bolsa de Valores, o melhor é fazer um bom check-up com o cardiologista neste fim de ano. Com mais dificuldade de atrair dinheiro estrangeiro para mercados emergentes, a tendência é vermos um mercado ainda mais volátil, ou seja, com grandes movimentos de altas e quedas.

A expectativa é que passemos mais um tempo "exportando" Selic, como um verdadeiro paraíso para rentistas.

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