Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Desespero eleitoral do governo ajuda agro a atrair seu dinheiro

Novo Plano Safra aumenta a possibilidade de uso dos recursos das LCAs

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A três meses do primeiro turno das eleições, o governo federal estimula uma abertura a fórceps dos cofres públicos. O exemplo mais óbvio é a PEC dos Auxílios —também apelidada de PEC Kamikaze ou PEC do Desespero—, que tem ocupado, merecidamente, as manchetes dos últimos dias. Para quem investe ou quer investir, há ainda outra iniciativa recém-anunciada que precisa estar no radar: o Plano Safra.

A famigerada PEC do Desespero, você já deve saber, servirá para distribuição de dinheiro para caminhoneiros e taxistas, enquanto aumenta o valor pago no Auxílio Brasil e no Auxílio Gás, furando, ou melhor, demolindo o teto de gastos públicos.

Assim, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, em plena contradição, ao mesmo tempo que aumentam os juros —para diminuir a demanda e controlar a inflação—, tentam distribuir dinheiro fora do teto de gastos, gerando desconfiança no mercado internacional e aumentando a demanda. O efeito esperado disso é, adivinhe só, mais inflação.

O presidente Jair Bolsonaro veste boné escrito 'Agro a força que move o Brasil' na feira Agrishow, em Ribeirão Preto (SP) - Joel Silva - 30.abr.2018/Folhapress

Além dessa manobra pouco ortodoxa, que deve influenciar a estratégia de players nacionais e internacionais, o Plano Safra, anunciado na quarta-feira (29), precisa estar no foco de quem busca oportunidades de investimento.

Nunca houve tamanho financiamento da produção agropecuária do país quanto a que agora se anuncia. São R$ 340,8 bilhões para fomento à produção agropecuária brasileira, o que significa um aumento de 36% em relação à última safra.

E a abertura de torneiras para irrigar o agro vem justamente no momento em que batemos o recorde de produção nos campos.

Nas previsões da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a safra de grãos, oleaginosas, leguminosas e cereais 2021/2022 será recorde, entre 3,5% e 6,5% acima da última.

De acordo com o IBGE, o crescimento da estimativa é explicado pelo desempenho da produção do milho, do trigo e da soja. O milho, com a soma de suas duas safras, deve totalizar 112 milhões de toneladas. É um crescimento de 27,6% na comparação com o que foi produzido no ano passado.

Espaço para crescer não falta. O Brasil possui potencial para ao menos dobrar suas áreas de plantio (cerca de 9% do território) por meio da conversão de pastagens subutilizadas. Ou seja: sem o desmatamento de áreas adicionais e mantendo 66% do nosso território destinado à conservação, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

A vantagem competitiva é tamanha que o país concentra um potencial de expansão agrícola maior do que o de todos os outros continentes (exceto a América do Sul) juntos.

O Plano Safra é, em um resumo prático, um programa para garantir linhas de crédito aos produtores. Com a falta de insumos —como fertilizantes— ocasionada pela Guerra da Ucrânia, os valores destinados ao programa são essenciais para vislumbrar os próximos passos do setor.

É importante notar que a maior parte do aumento do novo plano veio da linha de recursos com juros livres, ou seja, que são garantidos, mas oferecidos a preço de mercado. Esse perfil de crédito teve aumento de 69%, e é ele que costuma irrigar os grandes produtores.

Nos recursos com juros controlados, ou seja, no dinheiro mais barato do que o disponível no mercado —oferecido para iniciativas como a agricultura familiar e a recomposição de reservas legais—, a ampliação foi de 18%.

O novo Plano Safra também aumentou, de 50% para 70%, a possibilidade de uso dos recursos das LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio). A ideia do governo é que a medida gere uma maior participação do mercado de finanças privadas do agro.

Com a abertura de torneiras em meio à produção recorde, o novo Plano Safra deve criar bons caminhos para investidores que buscam aproveitar o atual momento favorável da produção, a alta demanda por alimentos, gerada com a crise global que se arrasta há mais de dois anos, e o dólar nas alturas, que melhora as margens de lucro dos exportadores, ainda que com o maior custo dos insumos.

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