Uma chance entre 50.063.860. Essa era a sua janela de oportunidade de ganhar na Mega-Sena da Virada, com um jogo de seis números. Deixe-me adivinhar: você não levou o prêmio.

A bolada de R$ 500 milhões —maior que o PIB de cidades como Queluz (SP) ou Caravelas (BA)— é o sonho dourado de quem tem boletos a pagar. Mas não perca as esperanças, suas chances de diminuir o sofrimento na hora de pagar as contas e melhorar suas opções na aposentadoria são bem maiores.

O fato de você estar lendo esse texto —que escrevi antes de saber o resultado do sorteio— mostra sua disposição de trabalhar para isso. Espero que eu tenha dado uma forcinha com a coluna que venho publicando aqui na Folha desde que a pandemia derrubou os mercados, na volta do Carnaval de 2020.

Aliás, com tanta incerteza em relação à economia e à estabilidade (no Brasil e no mundo) em 2023, o título do primeiro texto que publiquei nesta série merece ser repetido: o desespero dá dinheiro, mas não para você. Respire com calma e faça a lição de casa. Vamos a ela.

A constância nos investimentos ganha sempre, no longo prazo. Tem uma conta simples que mostra o poder disso: Se você começar a investir agora, R$ 500 mensais, ainda que opte pela pouco rentável poupança, chegará em 2027 com R$ 27.684,16 na conta. Se deixar para começar daqui a dois anos, mesmo colocando o dobro do dinheiro (R$ 1.000 por mês), no Réveillon de 2027 terá R$ 26.559,11. É batata.

Usei o mau exemplo da poupança só para mostrar que nem quem foge do mundo dos investimentos consegue escapar da lógica dos juros compostos. Colocando o mesmo dinheiro em ativos mais rentáveis —ainda que tão seguros quanto a poupança—, a diferença entre um resultado e outro é ainda maior.

Respeite o planejamento e a segurança. Não adianta ter uma carteira de ações e criptomoedas que dobrou de valor em um mês se, no mês seguinte, quando ela caiu, você teve que pegar empréstimo para pagar a prestação do carro. Formar sua reserva de emergência é obrigação. Os títulos do Tesouro ou os CDBs de bancos confiáveis, com liquidez diária —para sacar quando quiser— são boas pedidas para essa reserva.

Não tente remar contra a maré. Milhões de pessoas do mundo inteiro estão olhando para os mesmos ativos. Seu amigo pode saber muito sobre petróleo, bitcoin, dólar ou ações, mas dificilmente vai ter uma "sacada" que ainda não foi discutida por estrategistas de bancos, gestoras de fundos de investimento ou analistas especializados. Aproveite esse conhecimento já produzido a seu favor.

Aliás, as previsões costumam frustrar quem se apoia demais nelas, mas servem como norte para sua tomada de decisão. Para ajudar quem quer se melhorar seu conhecimento de mercado, reuni no Monitor do Mercado as "apostas" de grandes bancos e gestoras para o ano que vem. O mais interessante é que todas se conversam e concordam em uma coisa: Vai ser um ano difícil.

A guerra em curso na Ucrânia elevou o preço da energia na Europa. A recessão econômica nos Estados Unidos traz pouca esperança para uma retomada econômica na maior potência mundial. As incertezas sobre a abertura do mercado chinês atrapalham os planos dos mercados emergentes.

No Brasil, teremos a volta de um governo petista, com uma equipe econômica de visão nada ortodoxa, quase antagônica à de Paulo Guedes. Mudanças e imprevisibilidade nunca são fáceis para o dinheiro. Só que deixar para se preocupar com isso depois vai dificultar ainda mais.

Títulos atrelados à inflação e ações de empresas ligadas ao setor energético e que dependam pouco do governo parecem ser apostas seguras para o momento. Mas é na diversificação que você vai encontrar boas oportunidades no seu caminho. Feliz 2023!