Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Carta do fim de uma era

Novas regras para assessor de investimentos são má notícia para os apegados ao passado

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Em uma carta para lá de mal-humorada, que circulou na semana passada, o fundador da XP, Guilherme Benchimol, resolveu cobrar mais empenho dos assessores de investimento que trabalham para a empresa.

O email vazou para a imprensa um dia antes de a XP reportar queda no lucro líquido e ver suas ações caírem mais de 20% em apenas dois dias.

Guilherme Benchimol durante evento de abertura de capital da XP na Bolsa de Nasdaq
Guilherme Benchimol durante evento de abertura de capital da XP na Bolsa de Nasdaq - Divulgação

Benchimol desfia críticas ao trabalho dos profissionais (dizendo, por exemplo, que alguns grandes líderes transformaram-se em burocratas), ao mesmo tempo que afirma que reclamar "nunca foi o melhor caminho para superar nenhum desafio".

Fora o puxão de orelha em tom de desabafo, um ponto na carta chama a atenção para a receita de bolo de como seria um bom escritório de agentes autônomos de investimentos (AAIs), na visão de Benchimol. Apenas quatro coisas importariam: mais clientes, mais AUM, um ROA saudável e NPS alto.

A sopa de letrinhas é um pouco confusa, vamos às explicações: AUM é a sigla para o dinheiro dos clientes sob gestão dos escritórios (Asset Under Management, em inglês); ROA é quanto de receita se faz com esses ativos (Return On Asset); NPS é a medição de satisfação do cliente (Net Promoter Score).

Traduzindo: o ideal seria captar mais clientes e mais dinheiro, fazer uma receita saudável e manter os clientes satisfeitos.

Até agora, esses números são medidos pelas próprias corretoras que contratam os escritórios de assessoria de investimentos. Ou seja: quantos clientes e quanto dinheiro o assessor trouxe para aquela instituição financeira.

Uma grande mudança para esse mercado dos investimentos, entretanto, foi anunciada na semana passada. E a carta de Benchimol tem chances de virar um registro histórico do fim de uma era para os investidores.

No dia 14, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regula o mercado financeiro, publicou uma nova resolução regrando a atividade dos assessores de investimento, que começará a valer em junho.

Entre as significativas mudanças, está a permissão para assessores prestarem serviço para mais de uma instituição financeira. Apesar de muitos terem contrato de exclusividade com as corretoras, o aumento da concorrência obrigará o mercado a oferecer condições melhores para os clientes.

Outro ponto chamativo é que os escritórios poderão ter sócios que não são agentes autônomos. Ou seja: novos players, interessados na área, terão o caminho aberto para investir na criação ou na ampliação de escritórios de investimentos.

Além disso, haverá uma exigência maior de transparência em relação ao comissionamento dos assessores e instituições, bem como a permissão para a negociação de diversos outros produtos financeiros.

Aumentar concorrência e a transparência, e permitir que escritórios de investimento tornem-se empresas de fato, é um passo decisivo para a profissionalização do mercado de investimentos no Brasil. Boa notícia para os investidores e má notícia para quem estiver apegado aos modelos do (quase) passado.

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