Em uma carta para lá de mal-humorada, que circulou na semana passada, o fundador da XP, Guilherme Benchimol, resolveu cobrar mais empenho dos assessores de investimento que trabalham para a empresa.
O email vazou para a imprensa um dia antes de a XP reportar queda no lucro líquido e ver suas ações caírem mais de 20% em apenas dois dias.
Benchimol desfia críticas ao trabalho dos profissionais (dizendo, por exemplo, que alguns grandes líderes transformaram-se em burocratas), ao mesmo tempo que afirma que reclamar "nunca foi o melhor caminho para superar nenhum desafio".
Fora o puxão de orelha em tom de desabafo, um ponto na carta chama a atenção para a receita de bolo de como seria um bom escritório de agentes autônomos de investimentos (AAIs), na visão de Benchimol. Apenas quatro coisas importariam: mais clientes, mais AUM, um ROA saudável e NPS alto.
A sopa de letrinhas é um pouco confusa, vamos às explicações: AUM é a sigla para o dinheiro dos clientes sob gestão dos escritórios (Asset Under Management, em inglês); ROA é quanto de receita se faz com esses ativos (Return On Asset); NPS é a medição de satisfação do cliente (Net Promoter Score).
Traduzindo: o ideal seria captar mais clientes e mais dinheiro, fazer uma receita saudável e manter os clientes satisfeitos.
Até agora, esses números são medidos pelas próprias corretoras que contratam os escritórios de assessoria de investimentos. Ou seja: quantos clientes e quanto dinheiro o assessor trouxe para aquela instituição financeira.
Uma grande mudança para esse mercado dos investimentos, entretanto, foi anunciada na semana passada. E a carta de Benchimol tem chances de virar um registro histórico do fim de uma era para os investidores.
No dia 14, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regula o mercado financeiro, publicou uma nova resolução regrando a atividade dos assessores de investimento, que começará a valer em junho.
Entre as significativas mudanças, está a permissão para assessores prestarem serviço para mais de uma instituição financeira. Apesar de muitos terem contrato de exclusividade com as corretoras, o aumento da concorrência obrigará o mercado a oferecer condições melhores para os clientes.
Outro ponto chamativo é que os escritórios poderão ter sócios que não são agentes autônomos. Ou seja: novos players, interessados na área, terão o caminho aberto para investir na criação ou na ampliação de escritórios de investimentos.
Além disso, haverá uma exigência maior de transparência em relação ao comissionamento dos assessores e instituições, bem como a permissão para a negociação de diversos outros produtos financeiros.
Aumentar concorrência e a transparência, e permitir que escritórios de investimento tornem-se empresas de fato, é um passo decisivo para a profissionalização do mercado de investimentos no Brasil. Boa notícia para os investidores e má notícia para quem estiver apegado aos modelos do (quase) passado.
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