Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Uma ação triplicou de preço nesta semana: oportunidade ou armadilha?

Gafisa valorizou 212% em três dias, na primeira semana do governo Lula

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Sem meias palavras: No primeiro dia útil de seu terceiro mandato como presidente, Lula teve a pior recepção que o mercado financeiro poderia dar. Pelos números, os investidores tiveram mais desconfiança com a volta do líder petista do que com o início do segundo mandato de Dilma Rousseff.

Foram mais de 3% de queda do Ibovespa, principal indicador do Bolsa, e mais de 1,4% de alta do dólar em um único dia (veja aqui a comparação com outros presidentes). No desenrolar da semana, entrevistas e discursos serviram para dar mais previsibilidade sobre o que esperar do novo governo e, no fim da semana, o dólar já ficou mais barato do que antes da posse, enquanto a Bolsa caminha para o zero a zero.

Falo do assunto apenas para retomar a mandatória regra de não se desesperar na hora de ajustar seus investimentos. E, nesses primeiros dias do ano, uma ação deu o exemplo máximo de como correr para surfar ondas, sem entender de onde elas vêm, pode ser perigoso para o seu dinheiro.

Perspectiva da fachada do empreendimento Barra Vista, da Gafisa
Perspectiva da fachada do empreendimento Barra Vista, da Gafisa na Barra Funda, em São Paulo - Divulgação

A construtora Gafisa –tradicional, você deve conhecer pelo menos o nome– viu suas ações (GFSA3) praticamente triplicarem de preço de segunda a quinta-feira. Foram 212% de valorização dos papéis, que custavam R$ 10,70, às 11h30 de segunda, e chegaram a ser negociados por R$ 33,52, às 16h30 de quinta.

"Uau!", pensa o investidor, sempre buscando boas oportunidades. Uma boa valorização, na lógica tradicional do mercado, significa que outros investidores enxergaram mais possibilidades de ganho com os papéis da empresa.

Seria efeito do incentivo à construção, prometido pelo novo governo do PT? Ou uma possível melhora do poder de compra da população? A expectativa de uma queda de juros? Nada disso. Esses pontos se refletiriam em outras empresas do setor. Mas o Imob (espécie de Ibovespa do setor imobiliário) subiu só 3% no período.

É preciso então dar uma olhada no dia a dia da empresa. Não há novos resultados divulgados no período, mas os comunicados a investidores dão a pista: aprovação de um aumento de capital; a convocação de uma assembleia geral; e o aumento significativo da participação de um fundo de investimentos; e decisões judiciais.

O significado dessa agenda cheia se clareia para quem conhece de perto a operação. A Gafisa é uma das empresas controladas pelo bilionário Nelson Tanure. Ele também apita o jogo na Prio (antiga PetroRio) e, mais recentemente, na Alliar. Sua estratégia de tomar o controle de empresas e investir nelas volta ao noticiário de vez em quando. Travou uma queda de braço pela operadora Oi tempos atrás.

Agora, Tanure está em nova contenda, com outro investidor que gosta de briga: o fundo de investimentos Esh Capital, gerido por Vladimir Timerman, muito ativo (e um tanto polêmico) no Twitter. O fundo comprou diversas ações da Gafisa recentemente e, com o aumento da sua participação, começou a disputar mudanças na gestão da empresa.

Com isso, seguiu-se uma guerra judicial, com liminares suspendendo e liberando a realização de assembleias e o aumento de capital aprovado pela atual administração.

O fundo acusa a gestão atual de causar prejuízo à empresa e tentou antecipar uma assembleia de acionistas para pressionar a administração. A companhia se defende e afirma que o fundo age de forma especulativa e com intenções "duvidosas".

Para aumentar seu poder de voto na assembleia, o Esh tem ampliado sua participação na companhia, comprando mais ações no mercado. Fontes ligadas à companhia especulam inclusive que o próprio Tanure e seu grupo também estão comprando ações da Gafisa, pelo mesmo motivo.

Em resumo, com dois gigantes comprando os papéis disponíveis no mercado, os preços explodiram. Mas não por um movimento orgânico de investidores. E quem comprou ações no pico de quinta-feira, agora já perdeu mais de 25% do investimento.

O caso da Gafisa é um daqueles que dá dinheiro para alguns poucos, mas tem grande chance de tirar de muitos. Empresas e fundos são feitos de pessoas e, antes de tomar suas decisões de investimento, é bom saber quem serão seus sócios e o que eles querem.

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